A Polícia Federal (PF) está insatisfeita com as explicações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e prosseguirá as investigações para levantar a real participação do órgão no escândalo dos Correios. Todos os presos até agora e a maioria dos investigados são colaboradores ativos da Abin – alguns deles ex-funcionários – e agiram em colaboração direta com agentes da agência.
Todos serão reinterrogados e, caso persista a versão de que o órgão sabia da ocorrência de fraudes nos Correios e não comunicou o fato à PF, eles serão indiciados por prevaricação e improbidade administrativa. Nem o diretor-geral da instituição, Mauro Marcelo, está livre da imputação.
A PF é a instância do Estado à qual todo órgão federal tem dever legal de comunicar ocorrências de crimes contra o patrimônio público, sob pena de cometer prevaricação, violação atribuída a funcionário público que pratica ou deixa de praticar ato de ofício para notificar ocorrência de fatos contra o patrimônio público de que tenha conhecimento. A Abin não está isenta dessa responsabilidade.
A desconfiança da PF em relação ao órgão é tanta que até a maleta usada para esconder a câmera que filmou um diretor dos Correios recebendo propina será submetida a rigorosa perícia. Há uma suspeita de que ela possa ter sido emprestada pela Abin.
Outro fato estranho: à medida que as investigações avançam, são revelados no inquérito novos nomes de pessoas ligadas à comunidade de informação, mesmo que sejam empresários terceirizados ou colaboradores eventuais, ou delatores.
A PF descobriu que o empresário Arthur Waschek é um desses colaboradores. Dono da empresa Coman, de Brasília, foi ele que contratou a filmagem do vídeo em que o ex-diretor de Material dos Correios Maurício Marinho aparece, supostamente, recebendo propina de empresários. “A sensação que se tem é que a Abin está metida até o pescoço nesse atoleiro”, disse uma alta fonte do governo.
O autor da gravação, Joel dos Santos Filho, é colaborador terceirizado da Abin e prestou outros serviços à instituição. O policial militar Jairo Martins é um araponga que trabalhou na Abin de 1993 a 2001 e até hoje continua prestando serviços ao órgão. Conforme apurou a PF, ele tem forte influência na instituição e é amigo do diretor da área operacional da Abin, cuja casa freqüenta, habitualmente.
Na tentativa de diluir a gravidade da suspeita, Marcelo passou a divulgar, ultimamente, a versão de que um grupo insubordinado da Abin agiria por conta própria a serviço de uma conspiração política para atingir a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse grupo, segundo o dirigente, seria integrado por policiais militares cedidos pelo governo do Distrito Federal.
Ele calcula que o grupo soma de 30 a 35 policiais e anunciou uma reforma administrativa para afastar funcionários do órgãos que estariam a serviço de interesses espúrios. Entre todos, a situação mais complicada é a do agente secreto “Alemão”, chefe da equipe que atuou no caso dos Correios.
A partir de denúncias anônimas, como disse aos chefes, ele abriu uma investigação na estatal em março e, desde então, esteve duas vezes para ser preso pela PF, confundido com integrantes da quadrilha que fraudava licitações. A direção da Abin assumiu que “Alemão” atuava com autorização superior e que mandou relatórios das atividades, os quais eram remetidos para Marcelo e até ao chefe do Gabinete da Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Jorge Félix.
Comments are closed.