A executiva do PT tem pronta a proposta de realização de uma auditoria nas contas do partido para tentar frear o desgaste sofrido com as denúncias de pagamento de mesada a deputados. A medida foi acertada entre integrantes da cúpula petista reunidos até a madrugada de domingo em São Paulo como forma de reação à revelação pela revista Veja de que o empresário Marcos Valério pagou R$ 350 mil de um empréstimo feito pelo PT, com assinaturas do presidente do partido, José Genoino, e do tesoureiro, Delúbio Soares. Pelo que foi discutido, o partido defenderá uma investigação também nas contas dos outros grandes partidos.
Os mesmos dirigentes discutiram a conveniência de um pedido de licença da Executiva Nacional até as eleições internas, marcadas para setembro. Se confirmada, a decisão significa o afastamento temporário de Genoino, Delúbio e do secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. Todas as propostas serão tratadas na reunião da executiva prevista para amanhã, em São Paulo, quando será preparado encontro do Diretório Nacional no próximo fim de semana.
Apesar das pressões, ontem, Genoino ainda descartava a possibilidade de renunciar à presidência do partido. O futuro do principal dirigente petista tornou-se preocupação dentro do PT e do governo. Anteontem à noite, na festa junina realizada na residência oficial da Granja do Torto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou-se abalado com as últimas revelações. “Estou com dó do Genoino. Ele não tem nada a ver com essa gente”, disse Lula a alguns ministros, segundo a Agência Estado. O afastamento temporário pode ser a solução para o problema.
O deputado estadual Raul Pont (RS) defende o afastamento de Delúbio e Pereira, mas ainda tem dúvidas se o mesmo deve acontecer com o presidente do partido. Representante da corrente esquerdista Democracia Socialista, minoritária no Diretório Nacional, Pont ainda tem dúvidas em relação ao comprometimento de Genoino com as irregularidades confirmadas até agora. “Antes de tomar uma decisão sobre o Genoino, acho que devemos ouvi-lo. Em relação a Delúbio e Sílvio Pereira, acho que não há mais dúvidas de que devem ser afastados”, afirmou Pont em entrevista ao Correio.
Se a Executiva não decidir apresentar a proposta de afastamento dos dois, Pont pretende trabalhar junto com as outras correntes minoritárias para conseguir as assinaturas de um terço dos integrantes dos 82 integrantes do Diretório Nacional, número necessário para uma proposta ser levada a voto pela direção do partido.
O afastamento de integrantes da cúpula é a única forma de o PT “cortar na própria carne”, expressão usada por Lula quando surgiram as primeiras denúncias. Até agora, no entanto, nada foi feito nesse sentido. Os defensores de medidas duras acreditam que o afastamento seria uma resposta concreta às denúncias de que dívidas do partido do presidente da República são pagas pelo publicitário Marcos Valério, o mesmo que está sendo investigado pela PF e pelo Congresso como o pagador do mensalão, a propina que teria sido paga pelo PT a deputados do PP e PL para que votassem a favor do Palácio do Planalto.
Sacrifício solitário
Na reunião encerrada na madrugada de domingo, a cúpula petista chegou a discutir o sacrifício solitário de Delúbio. Ele assumiria a responsabilidade pela assinatura de Genoino, que teria rabiscado o nome sem saber do que se tratava. Mas a medida seria insuficiente. Silvio Pereira, também investigado como um dos operadores do mensalão, não teria como ficar. E a permanência de Genoino também poderia significar a resistência do partido a “cortar na própria carne”.
O afastamento da executiva marcaria uma mudança radical no comportamento adotado até agora pela direção do PT em relação à crise política iniciada com a divulgação da fita com imagens do funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo R$ 3 mil para fraudar uma licitação. Todas as decisões oficiais tomadas nesse período tiveram o objetivo de proteger os integrantes do partido envolvidos nas denúncias de irregularidades feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). As tentativas de acobertar os fatos, no entanto, fracassaram diante das revelações surgidas a cada semana.
O site oficial do PT ainda ontem exibia a resistência do comando petista a aceitar como verdadeiras as denúncias de Jefferson, apesar das evidências cada vez maiores das relações inadequadas do partido com o empresário Marcos Valério. Um artigo assinado na última sexta-feira por Genoino, por exemplo, revela a postura intransigente da direção diante das acusações. Com o título “Onda de denúncias vazias”, o texto diz que as acusações “são pilotadas, nos bastidores, por setores da oposição e escudada por setores da imprensa”. Pelo raciocínio do presidente do PT, o objetivo central das denúncias é a campanha eleitoral do ano que vem.
Na reunião do Diretório Nacional, a executiva terá de explicar porque somente alguns integrantes do partido sabiam do empréstimo de R$ 2,4 milhões contraído junto ao BMG. A explicação mais provável é a necessidade de pagamento de dívidas contraídas na campanha eleitoral do ano passado. Calcula-se em mais de R$ 20 milhões o buraco financeiro aberto na disputa pelas prefeituras. Só em Porto Alegre, a dívida feita superou R$ 1 milhão.
Estou com dó do Genoino. Ele não tem nada a ver com essa gente |
Genoino joga culpa em Delúbio Da Redação O presidente nacional do PT, José Genoino, disse ontem em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que assinou, junto com o publicitário Marcos Valério, o documento de empréstimo de R$ 2,4 milhões para o PT junto ao Banco BMG em confiança ao tesoureiro da legenda, Delúbio Soares. “Eu assinei em confiança ao companheiro Delúbio. No PT é normal os dirigentes assinarem cheque e contrato em confiança a outro dirigente. Eu não conhecia o Marcos Valério, a relação dele é com o Delúbio. Eu assinei em confiança ao Delúbio”, afirmou. Ele disse ainda que não assinou o documento em branco, mas sim após a assinatura do tesoureiro do partido. Perguntado sobre quem levou o publicitário para dentro do PT, Genoino voltou a jogar a responsabilidade sobre as costas de Delúbio. “Deve ser feita essa pergunta a quem se relacionou com ele. Eu não trouxe ele para dentro do PT. Porque eu não tinha essa relação com ele”, declarou. |
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