Um ex-tesoureiro da agência do Banco Rural em Brasília, José Francisco de Almeida Rego, 50, revelou à Polícia Federal como funcionava um dos esquemas de remessa de dinheiro, de Minas Gerais para Brasília, pela SMPB Comunicação, empresa da qual Marcos Valério Fernandes de Souza é sócio.
Segundo o funcionário, as remessas, inicialmente esporádicas, de R$ 50 mil a R$ 80 mil, começaram em 2002 e se tornaram freqüentes e em valores maiores a partir do início de 2003, quando alguns saques chegaram a ultrapassar R$ 200 mil.
O depoimento de Rego, prestado no último dia 6 à PF em Brasília, serviu de base para uma sigilosa e discreta operação de busca e apreensão, realizada pela própria Polícia Federal, na noite da última quarta-feira, em instalações do Banco Rural.
O objetivo é tentar identificar beneficiários do “mensalão”, suposto esquema de pagamento de mesada que seria feito pelo PT a parlamentares da base do governo. Constariam nesses registros os nomes de quem mandou pagar e de quem recebeu o dinheiro.
O ex-tesoureiro do banco disse que não se recordava dos nomes dos sacadores. Afirmou apenas que eram “pessoas simples”, e que um deles se identificou como assessor parlamentar quando o tesoureiro percebeu que sua aparência não coincidia com a foto de seu documento.
A PF obteve autorização judicial para realizar a busca de documentos no depósito central do banco, em Lagoa Santa, a cerca de 40 quilômetros de Belo Horizonte, e na agência do Brasília Shopping. Procurada pela reportagem, a assessoria da empresa não confirmou a operação.
Rego ingressou no Banco Rural em 1987 como chefe de cobrança, tendo deixado o banco em 2004. Nos últimos dois anos em que trabalhou na instituição, foi o responsável pela provisão de numerário da agência de Brasília junto ao Banco Central.
Ele revelou à PF que recebia ligações da tesouraria da agência Assembléia, no bairro de Santo Agostinho, em Belo Horizonte, onde a agência SMPB mantém conta. Eram solicitações para fazer pagamentos, em Brasília, de interesse da agência de publicidade de Valério.
O procedimento começava com o envio por fax, pela agência de Belo Horizonte, de uma autorização de saques a serem feitos na agência de Brasília. No documento eram listados os nomes dos sacadores.
Rego disse no depoimento que não se recordava de ter visto Marco Valério na agência do Brasília Shopping. Lembrava-se, contudo, de ter recebido um telefonema do empresário quando, por engano, pagou R$ 200 mil a uma pessoa cujo nome não correspondia ao autorizado pela SMPB. Como Valério inicialmente o responsabilizara pelo erro, o tesoureiro deixou de atender outros telefonemas do empresário.
O episódio teria deixado Rego abalado e, ainda segundo afirmou à PF, foi o motivo para deixar o banco, do qual foi demitido em junho de 2004.
O ex-tesoureiro revelou aos policiais federais que ele mesmo providenciava a obtenção dos recursos junto ao Banco Central e cuidava dos detalhes para a entrega dos valores.
A contagem do dinheiro era feita em uma sala especial, na agência. O dinheiro era reunido em notas de R$ 50 e R$ 100, para não fazer grande volume. Em geral, os sacadores colocavam as cédulas em bolsas, sem conferir.
A agência de Brasília exigia dos sacadores cópia da carteira de identidade e assinatura de recibo, documentos que ficavam em poder da agência durante três meses. Eram remetidos, depois, para o arquivo central do Banco Rural, em Belo Horizonte
jul
15
Comments are closed.