O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em entrevista exibida pelo “Fantástico”, da Rede Globo, que o Partido dos Trabalhadores tem de explicar à sociedade brasileira os erros que cometeu na arrecadação de verbas para suas campanhas eleitorais. Lula afirmou que a sociedade precisa saber “onde o PT errou, por que o PT errou e como vai fazer para consertar aquilo que foi o erro cometido”.
Na entrevista, Lula procurou restringir ao seu partido as denúncias surgidas a partir das acusações do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), da existência de um esquema de pagamento a parlamentares aliados do governo. O presidente criticou a antiga direção do partido, comandada por José Genoino, trocada há duas semanas.
– Acho que o PT teve um problema, que é uma questão da direção, porque houve um tempo em que os melhores quadros da política no Brasil eram dirigentes do PT. Depois que ganhamos prefeituras, governos estaduais, elegemos deputados e eu ganhei a Presidência, grande parte desses quadros veio para o governo, e a direção ficou muito fragilizada, muito enfraquecida. Possivelmente por isso tenhamos cometido erros que outrora não tínhamos cometido.
Conversa gravada durante o dia
A entrevista de 11 minutos foi dada na sexta-feira à repórter brasileira Melissa Monteiro, que trabalha numa produtora de televisão francesa. A conversa foi gravada durante o dia. Como o fuso horário da França tem diferença de cinco horas a mais e o presidente deixou o país às 13h30m no horário da França, a reportagem foi feita antes da divulgação da entrevista do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, que disse ter tomado empréstimos bancários para repassar recursos a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. No mesmo dia, Delúbio admitiu o esquema de caixa dois para financiar campanhas eleitorais do PT e de aliados em depoimento ao Ministério Público Federal.
Lula afirmou que o que a arrecadação ilegal de dinheiro para campanhas é freqüente no país.
– O que o PT fez, do ponto de vista eleitoral, é o que é feito no Brasil sistematicamente – disse o presidente. – As pessoas não pensaram direito no que estavam fazendo. O PT tem na ética uma de suas marcas mais extraordinárias e não é por causa do erro de um dirigente ou de outro que você pode dizer que o PT está envolvido em corrupção.
O presidente afirmou que o novo presidente do partido, Tarso Genro, deve explicações à sociedade, depois da auditoria que está sendo feita pela direção recentemente empossada. Também lamentou que as suspeitas tenham surgido num momento em que, segundo ele, “era o momento em que a gente estaria colhendo o que plantou em 2003”.
– Queria que (a situação) fosse diferente. Mas não é. – lamentou Lula. – Não estava previsto um erro político, mas aconteceu.
O presidente argumentou que as denúncias de corrupção estão se intensificando justamente porque as investigações ficaram mais rigorosas em seu governo:
– Estamos fazendo mais do que já foi feito em qualquer outro momento na História do Brasil. E tem um problema grave, porque toda vez que você combate a corrupção, ela aparece mais na imprensa e passa à sociedade a impressão que tem mais corrupção exatamente por causa do combate.
O presidente citou dados para reforçar sua argumentação.
– Nesses 29 meses de governo mais de mil pessoas foram presas no Brasil, ou seja, presas de verdade, por sonegação, por prática de corrupção, e vamos continuar utilizando todo o potencial que o Estado tem para fazer o que precisa ser feito – afirmou.
'O povo está sabendo distingüir'
O presidente aproveitou para alfinetar os adversários com o resultado da última pesquisa CNT/Sensus.
– Eles devem ter ficado um pouco indignados porque todas essas denúncias de corrupção não chegaram ao governo, e pelo contrário, nas últimas pesquisas o governo teve crescimento. Significa que o povo brasileiro está sabendo distinguir bem o que é denúncia verdadeira, o que está apurando e o que é peça de discurso. Toda vez que alguém faz ilações sobre corrupção e não dá o nome concreto, fica difícil apurar. No Congresso tem uma CPI que vai funcionar até outubro. Então vamos ter ainda muita gente para ser ouvida, vamos ter ainda muita denúncia, algumas verdadeiras. Outras serão ilações que muitas vezes não há como apurar.
A entrevista terminou com uma pergunta sobre os planos do presidente sobre a reeleição:
– Não estou pensando ainda em 2006. Tenho um ano e meio de mandato ainda, que vai exigir uma capacidade de trabalho muito grande. Temos muita coisa acontecendo no Brasil, e precisamos cumprir o nosso mandato. Não discuti ainda a questão da reeleição, não tenho pressa de discutir.
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