O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza voltará a depor na CPI dos Correios na quinta-feira, um dia depois do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Valério e Delúbio apresentaram nos últimos dias uma versão coincidente, mas conflitante com as anteriores, sobre a origem e destino dos saques milionários feitos em dinheiro vivo nas contas das agências de publicidade SMPB e DNA.
O depoimento de Valério foi acertado ontem pelo presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e pelo relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Integrantes da CPI classificaram a nova versão de Valério e Delúbio como “Operação Uruguai 2”, em referência à história forjada para justificar movimentações financeiras no caso Fernando Collor-PC Farias.
Delcídio disse considerar “preocupante” a nova versão. “Preocupante. Acho que tudo o que foi falado é absolutamente surpreendente. E me preocupa muito, em função dessas declarações, as conseqüências de ordem legal, especialmente para o PT.”
A nova versão é a seguinte: Valério teria feito, em nome de empresas que controlava, a SMPB e a DNA, empréstimos no banco Rural e no BMG de R$ 39 milhões e repassado a pessoas indicadas por Delúbio. O dinheiro seria para pagar dívidas de campanha de 2002 e para preparar o PT e partidos da base governista para as eleições de 2004. Antes, ambos negavam a operação.
Pontos obscuros
“A entrevista do Delúbio [ao “Jornal Nacional'] mostra muitos pontos obscuros e algumas contradições que têm que ser esclarecidas”, afirmou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos sub-relatores da CPI.
“Ele [Delúbio] construiu a mentira junto com o Valério para aparentar uma verdade que todo mundo sabe que não existe. Eles querem fingir que não houve corrupção no governo e que a origem do dinheiro é legal”, disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), integrante da CPI dos Correios.
Delúbio e Valério são acusados de participação em um suposto esquema de pagamento de mesadas a deputados, o chamado “mensalão”, em troca de apoio ao governo no Congresso.
Ministério Público
A CPI também acertou com o Procurador Geral da República, Antonio Fernando Souza, a participação do Ministério Público desde já nos trabalhos da comissão. Normalmente, o Ministério Público só age após receber o relatório final das CPIs.
“Vamos botar alguém do Ministério Público direto conosco porque, dependendo da mentira que a pessoa disser, já começa a encaminhar o processo criminal via Ministério Público”, afirmou Delcídio.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), um dos sub-relatores da comissão, acha inclusive que há elementos suficientes para pedir a abertura de processo criminal contra Delúbio e Valério.
“Ficou claro que eles estão trabalhando versões, prejudicando investigações, ficou claro que eles mentiram várias vezes. Já dá para abrir processo contra eles, criminal, por declaração falsa”, afirmou o tucano.
Fruet e Delcídio conversaram ontem por telefone sobre como lidar com possíveis habeas corpus preventivos –Marcos Valério possui um– que possibilitariam aos depoentes a se calar sobre determinadas questões.
“Criou-se um medo segundo o qual quem vai para uma CPI vai ser preso, fruto do excesso pendular que existiu no passado; o risco que estamos correndo agora é de outro excesso, que é desconsiderar o poder de pressão e coercitivo de uma CPI. Se a CPI não chegar em determinado momento e jogar duro, vai virar piada, vão chegar lá, contar um monte de mentira e fica por isso mesmo”, disse o deputado Fruet.
Deputados e senadores da CPI dos Correios dizem que a artilharia para cima de Delúbio, na quarta-feira, será pesada, não sendo descartada nem mesmo uma possível prisão. Amanhã, depõe o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, também acusado de participação no suposto esquema do “mensalão”.
jul
18
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