Acuado pelo aumento da temperatura política nos últimos dias e apreensivo com a paralisia da máquina administrativa, somado-se ao esfacelamento da base governista no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enveredou ontem pelo ortodoxo caminho habitualmente seguido pelos governantes quando se vêem ameaçados de perder as rédeas da crise: resolveu abrir o cofre.
Depois de uma tensa reunião pela manhã com os integrantes da chamada Junta Orçamentária no Planalto, durante a qual considerou inadmissível a inércia da administração, Lula anunciou a liberação de R$ 1 bilhão em recursos do Orçamento da União. A maior parte da verba irá contemplar a área de infra-estrutura, com a execução de obras em todo o país consideradas prioritárias pelo governo. – Não admito falta de execução do orçamento. Apesar da necessidade de ficarmos atentos à responsabilidade fiscal, o governo não pode parar. Se o problema é o contingenciamento, vamos descontingenciar – teria dito Lula segundo um dos ministros presentes.
O afago à base parlamentar, que visa à retomada das votações favoráveis ao governo no Congresso , como a do salário-mínimo hoje na Câmara, se traduzirá no estabelecimento de um cronograma regular de liberação de emendas parlamentares. A intenção é que o pagamento das emendas acompanhem o ritmo da liberação dos recursos da União, desatrelando-as das negociações políticas. A medida era um pleito antigo do Congresso.
Com as iniciativas, o presidente Lula espera, além de executar obras em todo o país que estavam praticamente paralisadas, demonstrar que o governo não assiste impassível ao desenlace da crise política. O jogo de sedução seguirá hoje durante audiência do ministro Jaques Wagner no Planalto com os integrantes da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) a fim de negociar o aumento de um ponto percentual no Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Na última segunda-feira, reportagem publicada pelo Jornal do Brasil revelou que dos R$ 22 bilhões em investimentos previstos no Orçamento 2005, apenas R$ 886,8 milhões haviam sido gastos até o final de julho. Os ministérios da Previdência, Educação e Transportes, até agora, haviam sido os mais afetados pela paralisia que se instalou desde que o governo se viu envolvido em denúncias.
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