– Ouso afirmar que, com a prisão dessa quadrilha, a população perceberá uma sensível baixa na criminalidade organizada no Rio Grande do Sul. Com frases de efeito, como a do delegado Guilherme Pacífico da Silva, da Delegacia de Roubos a Carga e Defraudações, as cúpulas das polícias Civil e Federal celebraram, ontem, o sucesso de uma megaoperação com parceria inédita contra um bando responsável por lavagem de dinheiro, assaltos a bancos e a carros-fortes e tráfico internacional de drogas e de armas.
A Operação Nóia-Serraluz (alusão às regiões-alvo da polícia), deflagrada na madrugada de ontem em 16 municípios gaúchos, deteve 33 pessoas, apreendeu um arsenal e mais de cem carros e quebrou a espinha dorsal de um consórcio de quadrilhas.
O resultado foi comemorado por José Otávio Germano, secretário da Justiça e da Segurança:
– Houve diálogo, transparência e extremo profissionalismo, o que racionaliza tempo, dinheiro homens e inteligência, prova de maturidade e competência.
Entre os presos estava o chefe de investigações da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, Lindomar Oliveira, suspeito de repassar informações sigilosas.
O alvo da ação, que mobilizou 460 agentes, foi Jair de Oliveira, 34 anos, do ramo do varejo de carros e que responde a processos por receptação e narcotráfico.
Jair Cabeleira, como é conhecido, seria o gerente de uma quadrilha que alimentava outros bandos. Segundo as investigações, ele centralizava a compra de cocaína e maconha da Bolívia, do Peru e do Paraguai, oferecendo como moeda carros novos – obtidos por meio da lavagem de dinheiro – e roubados.
A droga era distribuída a varejistas na Serra e na Grande Porto Alegre, além de servir como escambo por armas da Argentina e do Uruguai. O arsenal passava por Santana do Livramento e Uruguaiana antes de chegar aos depósitos da quadrilha. Na Capital, as armas – fuzis FAL, AK-47, HK e Uzi – e explosivos eram alugados ou revendidos a grupos criminosos, como o de José Carlos dos Santos, o Seco, foragido nº 1 do Estado.
– O bando tem ligação direta com traficantes internacionais e consegue armas até do Exército argentino – disse Rafael França, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF.
O potencial dos criminosos veio à tona em outubro, a partir de investigações paralelas da Polícia Federal e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Em junho, a prisão por compra de cocaína em Lages (SC) de Paulo Sérgio de Oliveira Ramos, 36 anos, unificou as operações. Desde então, 34 pessoas foram identificadas.
– Jair fornecia instrumentos para que os maiores assaltantes do Estado praticassem crimes – resumiu Genito Correa, delegado da PF.
Dois PMs presos contribuíam com informações privilegiadas. Os nomes não foram divulgados.
Pela manhã, viaturas trouxeram à Capital os 33 detidos – entre os quais motoristas, despachantes e demais componentes do bando, cujos desdobramentos devem incluir empresários dos ramos coureiro-calçadista, farmacêutico, moveleiro e da indústria petroquímica, interessados em cargas roubadas.
O principal alvo da missão
Os relógios marcavam 3h quando os primeiros 460 policiais civis e federais chegavam ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na Capital. Poucos sabiam que seriam cumpridos 34 mandados de prisão e 54 de busca e apreensão em 16 cidades.
O segredo era tamanho que no Deic policiais passaram a ser identificados por números. Antes de entrar no departamento, eles recebiam pequenos cartazes que eram afixados nos vidros dos veículos. No momento certo, os delegados definiam, pelos números, para onde os policiais deveriam se dirigir. O objetivo era evitar vazamento de informações.
– O número da equipe da Polícia Civil sairá em dupla com o mesmo número da Polícia Federal – explicava aos policiais o diretor do Deic, Ranolfo Vieira Júnior.
Entre as dezenas de grupos, um comandado pelo delegado da PF Genito Correa deixou o departamento às 5h. Os policiais rumaram em alta velocidade ao Vale do Sinos onde prenderiam, minutos mais tarde, Jair de Oliveira, o Jair Cabeludo, em uma residência de dois pisos, no número 111 da Rua Volter Pires, em São Leopoldo.
Dono de uma revenda de carros, ele é apontado como um dos chefes da quadrilha. Oliveira, a mulher e uma criança dormiam quando a casa foi invadida. No sobrado, os policiais localizaram três pistolas, dois revólveres e uma espingarda. Com os cães labradores Astro e Dinho, os policiais localizaram um pó branco, possivelmente cocaína.
Em Gravataí, a única baixa da operação. Ao presenciar um agente pulando o muro do vizinho – suspeito de integrar a quadrilha -, um comerciante ressabiado pelos últimos assaltos disparou três tiros. Dois atingiram o policial Paulo Vladimir de Farias Quintana, 35 anos, em um braço e no abdômen. O policial foi internado em estado regular no Hospital Cristo Redentor.
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