O perito responsável pela necropsia do corpo do prefeito assassinado de Santo André (SP), Celso Daniel (PT), afirmou em depoimento ao Ministério Público que o petista foi brutalmente torturado. Disse ainda que guardou silêncio pois foi “censurado” pela Polícia Civil paulista.
A declaração do médico-legista Carlos Delmonte Printes, feita três anos e meio após a morte de Daniel, contraria a versão oficial da polícia, que sustentou que Daniel foi vítima de crime comum (seqüestro-relâmpago seguido de morte) sem prática de tortura.
“É absolutamente excepcional a ocorrência de morte em casos de seqüestro-relâmpago. Com relação ao seqüestro convencional, nunca examinei um caso em que houvesse um ritual de tortura, crueldade e desproporcionalidade que verifiquei no exame do corpo do prefeito”, disse o perito.
Printes, à época do crime, dirigia o setor de Tanatologia do Instituto Médico Legal de São Paulo. Após defender a versão de tortura, disse ter sido rebaixado do cargo. A censura, disse ele, ocorreu após ser entrevistado por uma emissora de TV, quando falou sobre os sinais de tortura. À Promotoria, Printes afirmou ter sido proibido de falar sobre o assunto.
Daniel foi seqüestrado em 18 de janeiro de 2002. Ele estava em um carro guiado pelo empresário Sérgio Gomes da Silva. Dois dias depois, o corpo foi encontrado. Gomes da Silva foi acusado pela Promotoria de ser o mandante.
Após analisar o corpo de Daniel, Printes estabeleceu uma ordem sobre o que teria ocorrido. Primeiro, disse o perito, o petista sofreu uma lesão próxima ao ouvido esquerdo. Horas depois, foi queimado nas costas, provavelmente com o cano do revólver, e atingido por estilhaços de balas de uma arma disparada perto do corpo. Depois, atiraram ao lado do rosto de Daniel. Por último, disparos no tórax e no abdome.
O perito disse ter alertado a polícia sobre a incompatibilidade entre a reconstituição do crime e a lógica dos disparos. O alerta, segundo ele, foi ignorado.
Ontem, em reportagem do “Fantástico”, Bruno Daniel, irmão do prefeito, disse haver indícios de que a morte foi motivada pela busca de um dossiê. Segundo a reportagem, um pré-dossiê, encontrado no arquivo do prefeito, aponta enriquecimento de pessoas próximas ao petista.
Para o promotor Roberto Wider Filho, que investiga o crime, a declaração do perito prova a tortura. “É a prova absoluta e pericial de que não foi crime comum. Foi um crime de ódio contra Daniel.”
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