Em ação conjunta do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Federal, o árbitro de futebol Edílson Pereira de Carvalho foi preso, ontem, em Piracicaba (SP), onde mora, depois de ter sido acusado de envolvimento num esquema de manipulação de resultados de jogos do Campeonato Brasileiro, beneficiando sites de apostas ilegais.
Robson Fernandjes/Agência Estado/5.5.02 |
Áribtro da Fifa, Edílson Pereira de Carvalho (foto) está preso na polícia federal. Jogos |
Carvalho, que integra o quadro de árbitros da Federação Internacional de Futebol (Fifa), recebeu a prisão temporária de cinco dias, mas poderá recorrer para responder ao processo em liberdade. O árbitro Paulo José Danelon e dois bandeirinhas da Federação Paulista de Futebol (FPF) também estão sendo investigados, acusados de integrar o esquema. Tanto Carvalho como Danelon foram afastados do quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Em outra ação da Justiça, o empresário Nagib Fayad também foi detido, em São Paulo. Segundo as investigações da Polícia Federal, ele era um dos responsáveis pela corrupção, negociando diretamente com os árbitros. As fraudes garantiriam lucro de R$ 400 mil por jogo. A previsão é que os fraudadores poderiam ter lucrado mais de R$ 1 milhão.
Ao ser algemado por agentes da Polícia Federal, Edílson Pereira de Carvalho afirmou à reportagem da TV Globo que sabia os motivos pelos quais estava sendo preso. E justificou sua atitude denunciando que estava sendo pressionado, com ameaças de morte à mulher a à filha. Mas não revelou os autores. “Fiz tudo sob ameaça. Isso (as pressões) eu vou explicar depois que consultar o meu advogado”, afirmou.
O advogado Francisco Victor, da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (Anaf), conversou ontem com Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon. Aos jornalistas, Victor não adiantou as suas ações. “`Só quando eu tiver conhecimento das provas vamos saber o que realmente aconteceu. Estou na mesma situação de vocês.”
A hipótese de ameaças à família do árbitro foi descartada pelo delegado do setor de inteligência da Polícia Federal,Vitor Hugo. “A hipótese de ameaças está descartada. O Edílson está colaborando com o nosso inquérito”, afirmou o delegado. Vitor Hugo também informou que a Polícia Federal já tem a informação de que vários jogos foram manipulados, mas não quis entrar em detalhes para não atrapalhar as investigações.
A prisão dos acusados estava programada para amanhã, mas a Polícia Federal decidiu antecipar a operação depois que a revista Veja denunciou o escândalo em sua edição deste fim de semana. Conforme a reportagem do semanário, o Ministério Público Federal investigou o esquema, até mesmo com escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, durante seis meses. A fraude era causada por sites de apostas ilegais, em uma espécie de loterias eletrônicas.
Suborno
Em gravação transcrita por Veja, Edílson teria dito ao empresário Nagib Fayad, na véspera do jogo entre Vasco e Figueirense, apitado por ele no dia 7 de agosto: “Vou marcar falta no meio-de-campo e se o cara reclamar, boto pra fora”. O Vasco venceu o jogo por 2 x 1. Para que o esquema tivesse sucesso, dois árbitros eram subornados, entre eles, Carvalho, que receberia R$ 10 mil por jogo. Da CBF, cada árbitro que atua nas rodadas do Campeonato Brasileiro recebe R$ 2,5 mil.
Caso seja respeitado o artigo 275 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, todos os 11 jogos do Campeonato Brasileiro e 12 do Campeonato Paulista, que tiveram Carvalho como árbitro, podem ser anulados, devendo se realizar nova partida. Botafogo, Corinthians, Fluminense, Internacional, Santos, São Paulo e Vasco, entre outros, foram os times que tiveram partidas comandadas pelo juiz.
Essa não é a única polêmica em que Edílson Pereira de Carvalho está envolvido. O zagueiro argentino Sebá, do Corinthians, disse que foi agredido com palavrões pelo juiz, no jogo em que o São Paulo venceu por 3 x 2. “Gringo de m…”, teria dito Edílson. A denúncia foi para o STJD, mas o atleta recuou afirmando que tudo não passou de um mal-entendido.
SÉRIE B
OS JOGOS DE DANELON
Jogo – Data
Paulista 4 x 0 Guarani – 8 de maio
Portuguesa 0 x 4 Ituano – 10 de junho
Guarani 2 x 1 Santo André – 9 de julho
Ituano 2 x 1 Marília – 13 de junho
SÉRIE A
OS JOGOS DE EDÍLSON
Jogo – Data
Vasco 0 x 1 Botafogo – 8 de maio
Ponte Preta 1 x 0 São Paulo – 12 de julho
Paysandu 1 x 2 Cruzeiro – 16 de julho
Juventude 1 x 4 Figueirense – 24 de julho
Santos 4 x 2 Corinthians – 31 de julho
Vasco 2 x 1 Figueirense – 7 de agosto
Cruzeiro 4 x 1 Botafogo – 10 de agosto
Juventude 2 x 0 Fluminense – 14 de agosto
Internacional 3 x 2 Coritiba – 21 de agosto
São Paulo 3 x 2 Corinthians – 7 de setembro
Fluminense 3 x 0 Brasiliense – 10 de setembro
Série B também sob ameaça O esquema de manipulação de resultados no futebol denunciado pela revista Veja que hoje chega às bancas de Brasília, poderá envolver jogos da Série B do Campeonato Brasileiro. Os dois melhores clubes da competição, na fase semifinal, subirão para a Série A, em 2006. Foi confirmado ontem que o outro árbitro envolvido no esquema, Paulo José Danelon, apitou quatro partidas da Segunda Divisão (veja quadro). Como os jogos da Série B também faziam parte do esquema de apostas ilegais, poderão ser anulados pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Se essa for a decisão do tribunal, a segundona, já em sua segunda fase, teria que ser paralisada. Isso porque os jogos dirigidos por Danelon influem na classificação dos oito primeiros da primeira fase, assim como nos seis clubes rebaixados para a Série C, entre eles, o Bahia e o Vitória. “Ainda não sei se há prova de acerto de resultados na Série B. Se existir, é lógico que os clubes que se sentirem prejudicados têm o direito de recorrer e buscar a paralisação da competição”, adiantou Manuel da Lupa, presidente da Portuguesa. No jogo apitado por Danelon, a Portuguesa perdeu para o Ituano por 4 x 0. “Jogamos mal e merecemos perder”, reconheceu o dirigente. O esquema investigado pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco) e Polícia Federal funcionava assim: a quadrilha fazia apostas milionárias nos sites de futebol na internet que oferecessem loterias eletrônicas, embora esse tipo de negócio seja proibido no Brasil. Assim que eram escalados para um jogo (por sorteio), os árbitros comunicavam o fato ao empresário Nagib Fayad, cabeça da máfia. O placar e o valor da aposta eram combinados com os outros sócios. Em seguida, Fayad registrava o palpite em dois sites clandestinos de apostas, o Aebet e o Futbet. Para garantir que o resultado da partida corresponderia ao que fora apostado, a quadrilha subornava os juízes. O senador paranaense Álvaro Dias (PMDB), que presidiu a CPI do Futebol, em 2001, disse que esse esquema de fraudes ocorre porque “o mundo do futebol sempre viveu a impunidade absoluta”. Segundo ele, “os dirigentes promoviam verdadeiros desfalques, arrebentavam as finanças das entidades e dos clubes e nada acontecia”. Dias acredita que os árbitros envolvidos no esquema imaginaram que também podiam participar. “As impunidades sempre estimularm falcatruas. Agora, a punição deve ser rigorosa para desestimular a prática de ilícitos”, sugeriu. O presidente do Brasiliense, Luiz Estevão, acha “importante” a descoberta da corrupção na arbitragem, principalmente para que se investiguem outros esquemas. “Se há árbitros que se vendem para esquema de jogatina, podem existir os que se vendem por outras razões”. E argumentou: “Não pode ser coincidência o número de vezes em que o Brasiliense foi prejudicado no atual Campeonato Brasileiro”. Estevão deu um exemplo que incentivaria os árbitros a fabricarem resultados: um time da Série A que cai para a segunda divisão e que seja membro do Clube dos 13 perde metade da cota de televisão a que tem direito, que pode chegar a R$ 10 milhões anuais de receita. “Se houver dirigentes inescrupulosos, quanto eles se disporiam a pagar por um resultado positivo? Muito mais do que os R$ 10 mil ou R$ 15 mil que os árbitros agora estão sendo acusados de ganhar para fabricar resultados”, acusa. |
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