Portas enferrujadas; o teto podre, ameaçando desabar; caixas de luz abertas, com a fiação exposta; nos banheiros, faltam pias e sanitários. Parece mais um prédio abandonado, mas as imagens, exclusivas, revelam como é o interior da Superintendência da Polícia Federal, no Rio de Janeiro. Do local, no fim-de-semana passado, desapareceram cerca de R$ 2 milhões, apreendidos com traficantes na Operação Caravelas.
A quantia – em euros, dólares e reais – estava na casa do português Antônio Damaso, apontado como um dos chefes da quadrilha que tentava embarcar para a Europa 1,6 mil quilos de cocaína pura escondida em buchos de boi. A princípio, mais uma operação bem-sucedida da Polícia Federal.
As imagens são de áreas que continuam em atividade. O estado geral do prédio, construído na década de 40 para servir de sede da imprensa nacional, é ainda pior: 30% do espaço estão desativados por falta de condições mínimas de segurança. A caminho da torre do relógio, são encontrados varais com roupas estendidas.
Wilton Ferreti Magalhães administra o prédio há um ano e meio. “Se a caixa d'água estourar, inunda o prédio todinho lá embaixo”, alerta o funcionário.
Uma sala que faz parte das áreas desativadas do prédio mostra bem o que fez a falta de manutenção. As máquinas dos elevadores não funcionam há pelo menos 20 anos. O relógio parou no tempo. Só o que não parou foi a corrosão. O reboco do teto já caiu em vários lugares, deixando as ferragens à mostra.
O administrador alerta para o risco de desabamento: “Os engenheiros de obra em Brasília, responsáveis pela manutenção, disseram que tem que interditar o prédio imediatamente e reforçar com viga”.
Segundo a Polícia Federal, os 1,6 mil quilos de cocaína apreendidos na Operação Caravelas estariam guardados em uma sala-cofre no quarto andar. Não há câmeras de vigilância na área, considerada a mais segura do edifício. Câmeras voltadas para o lado de fora são da Companhia Estadual de Trânsito (CET-Rio).
O caminho do roubo
Primeiro, os bandidos passaram por uma porta de vidro da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que estava aberta. Hoje ela tem um cadeado que foi instalado recentemente. Depois, arrombaram uma porta que dá para a delegacia. Ela é controlada por senha, mas os bandidos não chegaram a usar. Em seguida, eles arrombaram o gabinete do delegado, que estava todo remexido. Entraram também na sala de uma equipe, de onde foram retirados quase R$ 2 mil de um dos agentes. Ainda há marcas da perícia de onde foram retiradas impressões digitais.
Depois, os bandidos foram para a sala do escrivão-chefe, responsável pela chave do cofre. Eles arrombaram o armário e retiraram, além da chave, uma pistola 9 mm. Foram direto para o cofre, que fica no fundo do corredor.
Para chegar até o local, os ladrões andaram cerca de 30 metros. Segundo as investigações, eles sabiam exatamente onde estava a chave e também onde estava guardado o dinheiro: uma sala-cofre, que agora foi reforçada com outro cadeado, instalado esta semana. Durante todo o trajeto, da delegacia até o cofre, não existe uma câmera de segurança.
Dentro do prédio, funcionam diversas associações, além da Polícia Federal. Segundo o administrador, o controle de entrada é falho. “Qualquer pessoa entra com objeto de metal aqui, não tem catraca, há várias entradas e saídas do prédio. È preciso verba para implantar esse plano de segurança”, ressalta ele.
Para o Sindicato de Servidores da Polícia Federal, o sumiço dos R$ 2 milhões poderia ter sido evitado. “Infelizmente, era previsível. Previsível porque quando se exige de uma instituição uma estrutura muito maior do que a que ela está preparada para executar, fatalmente vai ocorrer um problema a qualquer momento”, avalia Cláudio Alencar, vice-presidente do sindicato.
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