Duas mulheres e três homens estão na cadeia desde quinta-feira acusados de patrocinar o mercado clandestino de medicamentos ilegais nas feiras de importados do Distrito Federal. É um esquema criminoso que há três dias vem sendo denunciado pelo Correio Braziliense e que já provocou a apreensão de 1.627 comprimidos. A estratégia da defesa é minimizar a extensão da atividade criminosa.
O depoimento de Maurício Gomes, 26 anos, um dos presos, à Delegacia de Consumidor está recheado de inverdades. Ele é um dos proprietários da Blue Lord, banca de cosmésticos de número 411, no bloco D da feira do Setor de Indústrias e Abastecimento. Trabalha junto com a mãe, dona Lourdes, e tentou convencer o delegado de que os feirantes vendem remédios apenas para uma clientela cativa de velhos amigos e que driblam a fiscalização com um cinematográfico sistema de senhas — o consumidor chega na banca, diz aspirina e o vendedor lhe entrega um comprimido do abortivo Cytotec.
Na tarde de terça-feira passada, 20 de setembro, a equipe do Correio testemunhou a venda de 20 comprimidos na Blue Lord. Eram emagrecedores, anti-reumáticos e estimulantes sexuais fabricados no Paraguai. Estavam escondidos numa caixa de sapato ao lado de pacotes de batom. Todos os compradores flagrados eram estreantes nas feiras. Jamais haviam pisado em nenhuma delas. Tampouco recorriam a qualquer código para pedir a mercadoria. Chegavam nos quiosques e pediam o remédio desejado sem meias palavras ou senhas. No máximo, falavam baixo. O ritual se repetiu não apenas no quiosque de Maurício.
A reportagem do Correio testemunhou entre os dias 19 e 21 de setembro a comercialização de 167 pílulas de abortivos, de emagrecedores, de anti-reumáticos e de estimulantes sexuais em quatro feiras de importados do DF. Foi assim em três boxes da Feira do Setor de Indústria e Abastecimento, em quatro da feira da Ceilândia, em três na do Gama e em dois na de Taguatinga. Em todos, os consumidores levaram para casa remédios paraguaios proibidos no Brasil e formulados com substâncias perigosas, algumas com altas taxas de letalidade, como o emagrecedor Triac e o abortivo Cytotec.
Dona Antonia, dona da banca 238 na Ceilândia, conhece os perigos do Cytotec. Sabe que ele pode custar a vida de quem compra e a liberdade de quem vende. Nada que a preocupe demais. Dribla a fiscalização escondendo o Cytotec numa caixa de sapato forrada com papel de presente sob as prateleiras cheias de muambas e santinhos. Na tarde de quarta-feira 20 ela se dividia entre atender a mulher grávida de nove meses que procurava um estatueta de Nossa Senhora do Bom Parto e o pedido aflito da jovem magricela que, constrangida, perguntava o preço do abortivo Cytotec: “O Cytotec é R$ 50 o comprimido. Trazemos do Paraguai. Só vendo em capsulas. Não tenho a caixa nem a bula. A gente vende recortado. Mas é seguro”.
Os feirantes não são megacomerciantes. São homens e mulheres humildes que atravessam o país para comprar bugigangas no Paraguai e vender nas feiras de importados, todas elas, aliás, legalizadas pelo governo do Distrito Federal. Entre muambas eletrônicas, trazem comprimidos proibidos no Brasil e muito procurados pelos consumidores — seja por modismo, como no caso dos estimulantes sexuais, seja por desespero, caso do abortivo Cytotec.
Na feira dos importados, comércio criminoso em larga escala
“Eu me surpreendi demais com essas denúncias. Não sabia que as feiras de importados vendiam essas coisas. É um crime grave. A pena é de até 15 anos. Daqui para frente nós agiremos com todo o rigor”, avisa Vera Lúcia Silva, chefe da Delegacia do Consumidor. “Ninguém vende Cytotec sem saber o que está fazendo.
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