Enquanto calcula milimetricamente quando poderá falar tudo o que sabe, como disse ontem em entrevista ao Correio Braziliense, o advogado Rogério Buratti terá seus passos investigados no exterior. Treze ligações telefônicas do ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para a sede do banco britânico Lloyds Bank PLC, em Miami, foram a senha para a CPI dos Bingos pedir ajuda ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça. Buratti está no centro da polêmica renovação de contrato de R$ 650 milhões entre a Caixa e a Gtech, em abril de 2003. Além disso, reafirma que para renovar com a Caixa, a Gtech ofereceu ao próprio Palocci um “auxílio financeiro ao PT”. Para completar o arsenal de denúncias, o advogado garante que a Leão Leão pagava mesada de R$ 50 mil a Palocci quando o ministro era prefeito de Ribeirão Preto cidade. Em troca a empresa mantinha contratos com a prefeitura.
Os dados do sigilo telefônico de Buratti mostram que as chamadas para o Lloyds Bank aconteceram entre fevereiro de 2002 a dezembro de 2003. Existe uma ligação que chama mais atenção. Aconteceu no dia 3 de abril de 2003, dois dias depois do adiamento da assinatura do contrato entre a Caixa e Gtech. Os executivos da Gtech dizem que a não contração de Buratti como consultor teria atrasado o fechamento do negócio, que aconteceu 5 dias depois.
Outro indício da presença do advogado fora do Brasil é a caixa postal em seu nome de número 110510, em Miami. O Correio descobriu que código postal desse endereço é o mesmo de uma das filiais do Lloyds Bank PLC. O escritório financeiro estaria localizado no edifício One Biscayne Tower, 2nd Biscayne Boulevard. Nesse endereço também funciona a agência 1215-7 do Banco do Brasil, na qual o governo Lula abriu a conta nº 010020039, que recebe doações para o programa Fome Zero. Por telefone, um funcionário da filial de Miami – em português fluente – não quis confirmar se Buratti é cliente do banco, alegando sigilo bancário.
Buratti confirma as ligações para o banco britânico, mas pela sua versão, eram prospecções de negócios no exterior, quando ainda era executivo da Leão Leão. Ele nega que seja o dono da caixa postal em Miami e de contas no Lloyds Bank. O advogado revela que a empresa utilizava lobistas nessas operações e às vezes até para buscar financiamentos externos. “A Triângulo do Sol (concessionária de uma rodovia em São Paulo, formada numa sociedade entre a Leão & Leão e o grupo português Somague) usava esse método. Eu era conselheiro da Triângulo e meus telefonemas para Miami e para Nova York estão vinculados a essa atividade”, diz Buratti.
Envolvimento
A Triângulo do Sol está envolvida com a Interbrazil, a seguradora acusada de receber contratos do setor elétrico depois de contribuir para campanhas eleitorais do PT em Goiás sob a coordenação de Adhemar Palocci, irmão do ministro da Fazenda. A Triângulo do Sol, que é concessionária de três rodovias no interior de São Paulo e da qual a Leão Leão detém 50% das ações, fechou com a seguradora um contrato de R$ 211 milhões em julho de 2003.
O negócio entre a empresa e a Interbrazil teve um reseguro fraudado. O seguro feito pela Interbrazil serviu para garantir que o estado de São Paulo fosse indenizado, caso a concessionária deixasse de manter serviços de emergência e realizar obras de conservação nas rodovias SP 310, SP 326 e SP 333. A seguradora teria recebido US$ 258 mil para fazer a apólice. Como o valor da indenização é alto, a seguradora é obrigada por lei a fazer com outra instituição o seguro do seguro, o resseguro. A seguradora foi autorizada pelo Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), que regulamenta essas transações, a fazer a operação no mercado internacional. A Interbrazil informou ao IRB que teria fechado negócio com uma seguradora da Espanha, o Banco Vitalício de Seguros, um contrato que, segundo os espanhóis, nunca existiu.
Em ofício encaminhado no dia 6 deste mês, o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) pede cooperação da DRCI na investigação sobre Buratti e vasculhar as atividades financeiras ou viagens no exterior dos envolvidos no caso Gtech. Alves também pede ao diretor do DRCI, Antenor Madruga, a criação de uma unidade de inteligência para ajudar na análise dos sigilos telefônico e bancário. Antes de enviar o ofício, o senador e assessores da comissão já tinham participado de três reuniões no Ministério da Justiça.
Depoimentos de doleiros Com o feriado nesta quarta-feira, as CPIs do Mensalão e dos Bingos resolveram transferir os depoimentos para a próxima semana. Só a CPI dos Correios manteve sua agenda para amanhã e quinta-feira. Nesta terça-feira às 10hs, a sub-relatoria da DNA, SMPB e Fontes Financeiras vai ouvir o depoimento do doleiro Najun Turner. Segundo o doleiro Toninho Barcelona, Turner e o doleiro Dario Messer fizeram operações para o PT, durante a campanha eleitoral de 2002, na corretora Bônus-Banval. O segundo depor na comissão é Carlos Alberto Quaglia. O doleiro argentino, proprietário da Natimar Negócios e Intermediações Ltda, é acusado de operações de lavagem de dinheiro a serviço do empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza. Na quinta-feira serão ouvidos o sócio da agência franqueada dos Correios Anchieta, Paulo Roberto Kress, o ex-diretor dos Correios, Carlos Eduardo Fioravante da Costa e o ex-assessor da Secretaria de Comunicação do governo federal, Marcos Flora. |
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