O Ministério Público de São Paulo vai intimar o ex-deputado José Dirceu (PT) para prestar esclarecimentos sobre seu suposto envolvimento no esquema de propinas em Santo André, na gestão de Celso Daniel. A cassação do mandato de Dirceu, no dia 30 de novembro, permitiu a convocação do ex-ministro da Casa Civil pelo MP. “Antes não podíamos chamá-lo para depor porque ele era deputado e tinha foro privilegiado no Supremo”, disse um dos promotores do caso, Roberto Wider Filho.
Celso Daniel foi seqüestrado no dia 18 de janeiro de 2002 e encontrado morto a tiros dois dias depois em uma estrada de terra em Juquitiba, na Grande São Paulo. Três meses após o crime, um irmão do prefeito – o oftamologista João Francisco – afirmou ao MP que Daniel descobrira um esquema de cobrança de propina de empresas de ônibus em Santo André para abastecer as campanhas do PT.
Ainda segundo o oftalmologista, a morte de Celso Daniel seria uma queima de arquivo. João Francisco apontou Dirceu como um dos destinatários finais do dinheiro recolhido em Santo André. A informação, segundo João Francisco, foi dada a ele pelo atual chefe de Gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, no enterro de Daniel. Carvalho era à época secretário de Governo de Santo André.
Na conversa, Carvalho teria revelado a João Francisco o esquema de cobrança de propina montado na cidade, além de ter contado que, certa vez, ele mesmo havia levado pessoalmente R$ 1,2 milhão em espécie a Dirceu. Carvalho nega a versão do irmão de Daniel.
Wider Filho explicou que o MP ainda não definiu data para convocar Dirceu, mas quer que o ex-ministro “esclareça a questão do dinheiro, levantada no depoimento do João Francisco”. “Ele (Dirceu) não é peça-chave do caso de corrupção porque o caso já está com denúncia e em andamento. Mas é importante para sabermos a destinação final de recurso”, conclui o promotor.
Não é a primeira vez que o MP paulista tenta investigar Dirceu. Em junho de 2002, o então procurador-geral de Justiça de São Paulo, Luiz Antonio Marrey, encontrou-se com o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, para que se abrisse um inquérito policial e se investigasse o envolvimento de Dirceu no caso. O pedido foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), instância responsável por decisões envolvendo parlamentares, e no início de julho do mesmo ano o ministro Nelson Jobim negou o pedido. Os outros ministros estavam em férias.
Desde o início das investigações, o MP paulista defende que o crime teve motivação política, tese que ganhou fôlego com a instauração da CPI dos Bingos.
Toninho
Além do caso Celso Daniel, a CPI investiga as motivações do assassinato de outro prefeito petista, o Toninho do PT, de Campinas, morto com um tiro em setembro de 2001. A Polícia Civil, que concluiu inquérito dizendo que Celso Daniel foi vítima de crime comum, reabriu o caso a pedido do governador Geraldo Alckmin. Conforme adiantou a Agência Estado, a delegada que preside as investigações, Elisabeth Sato, já admite a hipótese do assassinato de Daniel ser crime de mando.
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