Daniel Ferreira/CB/18.8.05 |
A convocação de Delúbio Soares pela comissão de inquérito dos Correios deve ser decidida ainda nesta semana |
Embora a Coteminas tenha divulgado ontem demonstrativos sobre o registro no livro-caixa do depósito, sob o título “PT Diretório Nacional”, no partido não ocorreu o mesmo. A atual direção petista informou que o repasse não foi contabilizado. O que causou suspeitas entre os integrantes da CPI. Para o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), a transferência sugere que o suposto caixa 2 do PT é ainda maior do que o revelado até agora pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
A operação chegou ao conhecimento das autoridades em agosto. O Bradesco, banco onde a Coteminas mantém conta, comunicou ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda, a existência do depósito. Os R$ 1 milhão seriam o pagamento de parte da dívida, no valor de R$ 12 milhões, que a legenda teria com a Coteminas, empresa do setor têxtil, pelo fornecimento de 2,75 milhões de camisetas no ano passado, para serem usadas como material de propaganda na campanha eleitoral.
O depósito não aparece na quebra de sigilo das 16 contas do PT analisadas, no período que vai de 2000 até o final do primeiro semestre de 2005, pela CPI dos Correios. Serraglio pedirá informou nesta terça-feira que encaminha ainda hoje à Coteminas um ofício pedindo o levantamento sobre todas as operações financeiras feitas entre a empresa e o PT. Segundo Serraglio, a comissão já tem o sigilo bancário e fiscal do PT quebrados e precisa das informações da Coteminas para comparar os dados.
Por telefone, Marice Corrêa de Lima foi localizada pelo Correio Braziliense em casa, na capital paulista, mas se negou a detalhar sua participação no caso. “A direção do partido é que tem todas as informações. Não vou me manifestar”, encerrou. Segundo informação de Delúbio Soares, parte do dinheiro transferido à Coteminas teria origem nos empréstimos realizados por Marcos Valério para repasse ao PT. Em lista de sacadores apresentada à CPI dos Correios e à PF, Valério informou ter repassado R$ 4,9 milhões ao Diretório Nacional do partido.
O presidente da empresa e filho de Alencar, Josué Gomes da Silva, reagiu à relutância do PT em admitir o pagamento. “Temos todos os documentos que demonstram cada afirmativa que fizemos. O resto é conversa. Não vou ficar em conversa”, afirmou. Segundo o empresário, o diretor da Coteminas que teria recebido o dinheiro de Marice o depositou no banco logo em seguida.
Duas parcelas
Ainda de acordo com informação da Coteminas, foram vendidas 2.750.616 camisetas ao PT. O produto foi entregue por meio de 50 notas fiscais, emitidas entre setembro de outubro de 2004, num valor total de R$ 11 milhões. O pagamento seria feito em duas parcelas, a vencer em 60 e 90 dias, em novembro de 2004 e janeiro deste ano. Em novembro do ano passado, porém, o prazo de pagamento foi renegociado. A dívida seria paga em três parcelas, em março, abril e maio deste ano, sendo corrigida para R$ 11,9 milhões.
O PT não pagou as duas primeiras parcelas. Em 17 de maio, pagou R$ 1 milhão — a operação detectada pelo Coaf. A empresa informou que forneceu recibo de quitação parcial do débito e atualizou a dívida do partido para R$ 11,1 milhões. Nos meses seguintes, a empresa tentou receber o dinheiro por meio de cartas dirigidas à direção do PT. Em outubro, o então presidente do partido, Tarso Genro, apresentou uma nova proposta (veja fac-simile) para pagamento do débito em aberto.
O partido queria pagar R$ 11 milhões em 48 parcelas iguais, com seis meses de carência e taxa de juros de 2% ao ano. A nota da Coteminas diz que a proposta “não pode ser aceita por significar um ônus enorme” para a empresa. A dívida do partido estaria hoje em R$ 12,2 milhões. A empresa conclui a nota afirmando que aguarda posicionamento do PT quanto à liquidação final de seu débito e que tem a segurança de que receberá integralmente o valor que lhe é devido, pelo que vem sendo reiterado por todos os dirigentes do partido.
Comments are closed.