O comportamento suicida é o maior problema de saúde pública, debatido em todos os países do mundo, que pode ser prevenido, causando quase que a metade das mortes violentas e resultando em, aproximadamente, um milhão de fatalidades, todo o ano, tanto quanto custos econômicos na faixa de bilhões de dólares.(OMS)
De acordo com previsão da Organização Mundial da Saúde, do ano de 1999, aproximadamente um milhão de pessoas morreriam por suicídio, no ano 2000, (WHO 1999), causa mais comum de morte que acidentes de carro. Estimativas sugerem que tais fatalidades podem aumentar na ordem de 1,5 milhão em 2020.
Em todo o mundo, mais pessoas morrem por suicídio que por homicídios e guerras combinados. A morte por suicídio ocupa a terceira posição entre as causas mais freqüentes de falecimento na população de 14 a 44 anos, em alguns países.
As pesquisas indicam que, na maioria dos países, o suicídio predomina no sexo masculino e aumenta com a idade, no entanto, tem sido alarmante o aumento de comportamentos suicidas entre jovens com idade entre 15 e 25 anos.
Embora muito mais homens que mulheres cometam suicídio, em muitos lugares, mais mulheres que homens fazem tentativas. Estima-se que as tentativas sejam 20 vezes mais freqüentes que os suicídios consumados.
O impacto social e psicológico na família e na sociedade é muito grande.
De acordo com a literatura especializada, para cada pessoa que cometeu suicídio, pelo menos seis pessoas são diretamente afetadas. Segundo a Drª Catherine Lê Galès-Camus, da OMS, “para cada morte por suicídio, há membros da família e amigos, cujas vidas são devastadas emocional, social e economicamente.” Se o suicídio ocorre na escola ou no local de trabalho, tem impacto em centenas de pessoas. O impacto desse fenômeno para a economia do país é bastante significativo, especialmente, ao considerar-se a perda ou diminuição de atividade produtiva, doenças associadas e no que respeita à utilização dos serviços públicos de saúde.
CAUSAS
O comportamento suicida tem uma série de causas complexas, subjacentes que incluem: pobreza, desemprego, perda de pessoas amadas, separação e problemas legais ou relacionados ao trabalho. Uma história familiar de suicídio, abuso de álcool e drogas, assim como abuso na infância, isolamento social e desordens mentais, incluindo depressão e esquizofrenia, têm um papel importante em grande número de suicídios. Doenças físicas e dores incapacitantes podem, também, aumentar o risco de suicídio.
Outros fatores relacionados ao suicídio são: predisposição genética, fatores bioquímicos no metabolismo, traços de personalidade e estado emocional de desespero.
Desordens mentais e doenças físicas, álcool e/ou outras substâncias de abuso – drogas, medicamentos controlados – assim como perda de relacionamento interpessoal ou rejeição podem ser fatores desencadeadores de comportamentos suicidas. Tais aspectos não são independentes ou excludentes.
SUICÍDIO ENTRE POLICIAIS
Entre os membros de Instituições policiais, o risco de suicídio pode ser maior, quando comparado à população, em geral.
A participação em operações perigosas e a proximidade com a marginalidade, comuns no dia-a-dia do policial, que o expõem a constantes situações de risco de morte, podem ser fatores desencadeantes de desequilíbrios físicos e emocionais, como estresse, depressão, reação ou síndrome do pânico. Estes aspectos, quando não identificados e tratados adequadamente, podem se tornar fatores de risco de suicídio, entre outros, resultando violência doméstica, hostilidade social, dificuldade no desempenho de suas atividades profissionais.
Importante destacar que o acesso fácil e legal a armas torna-se um fator de risco a ser considerado.
A morte de um policial tem um impacto significativo para a família, amigos mais próximos, para a Instituição a que pertence e para a sociedade.
Dados de pesquisa do Centre for Research and Intervention on Suicide and Euthanasia, da Universidade de Quebéc, indicam que, embora haja estimativa de que 80% dos policiais vítimas de suicídio dêem sinais a respeito de suas intenções suicidas, freqüentemente, não procuram ajuda para seus problemas.
OUTROS FATORES DE RISCO
Além da presença de desordens mentais há certos sinais que podem alertar para a possibilidade de suicídio: atitudes de agitação, culpa, desespero e diminuição de interesses associado à atitude de introspecção são, particularmente, fortes indicadores.
Há certos grupos de pessoas que tem, especialmente, risco de comportamento suicida. Estes incluem pessoas com uma história de tentativas de suicídio, dependência de álcool e outras drogas, jovens do sexo masculino, pessoas idosas, pessoas que conviveram com suicidas, grupos indígenas, pessoas com conflitos de identidade sexual, migrantes, habitantes de áreas rurais, presos em custódia e pessoas com doenças físicas debilitantes.
FATORES DE PROTEÇÃO
Os fatores de proteção incluem auto-estima elevada e uma ligação afetiva, especialmente com familiares e amigos, de modo a criar um suporte social; relacionamentos estáveis e encontros religiosos ou espirituais também têm um importante papel como fator de proteção.
Intervenções baseadas no princípio de conexão social com outras pessoas e o fácil acesso a linhas de ajuda como CVV – Centro de Valorização da Vida – têm tido resultados encorajadores. Estudos demonstram que o suporte oferecido por voluntários pode aliviar em muito o estresse associado a desordens mentais.
Intervenções psicossociais e centros de prevenção ao suicídio são também estratégias promissoras. Evidências sugerem que a mídia pode encorajar a imitação de suicidas. Pode ter, também, um papel relevante na redução do estigma e discriminação associados aos comportamentos suicidas e às desordens mentais.
No nível individual, quando diagnosticada a presença de desordens mentais específicas, medicação deve ser utilizada com segurança, caso haja indicação.
È fundamental enfatizar que, mesmo com a utilização de medicamentos, o tratamento psicológico é muito importante para as pessoas com comportamento suicida. O foco da terapia de suporte deve ser despertar a esperança em um futuro, o incremento da independência e a aprendizagem de diferentes caminhos para lidar com o inevitável estresse da vida diária.
PREVENÇÃO
É muito importante saber que o suicídio pode ser prevenido. Segundo o Professor Lars Mehlum, da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio, (IASP) o acesso aos meios de suicídio é um importante fator de risco e determinante do suicídio.
A Organização Mundial da Saúde apresenta algumas sugestões para a prevenção de comportamentos suicidas, como o tratamento daquelas pessoas que apresentam alguma desordem mental; o controle do porte de arma; controle da disponibilidade de substâncias tóxicas.
Comumente, é encorajada a redução ao acesso aos métodos utilizados – pesticidas, medicamentos, etc. A restrição ao acesso a armas tem sido associada ao decréscimo de suicídios por este meio em muitos países.
Uma estratégia importante na prevenção é a detecção precoce e o tratamento adequado de desordens mentais.
Ao ser detectado um quadro emocional que indique algum risco de suicídio em policiais é imprescindível que o acesso a armas seja restrito e/ou controlado.
Um estudo sobre os efeitos do Programa de Prevenção ao Suicídio em Policiais, realizado em Montreal/Canadá, iniciado em 1997 indica, com uma probabilidade superior a 99%, diferença significativa nos índices de suicídio antes e após o Programa de Prevenção, comprovando a eficácia do Programa no meio policial, naquele país. Entre 1980 e 1996, a taxa anual de suicídio foi de 36.8 por 100.000 pessoas por ano, ao passo que, para os sete anos, depois de iniciado o Programa de Prevenção ao Suicídio, de 1997 a 2004, ano da publicação do estudo, a taxa anual foi de 3.4 por 100.000 pessoas por ano.
De acordo com Barros (1991), apud Prieto e Tavares, os estudos sobre suicídio, no país mostram-se muito deficitários. Há um sub-registro desse tipo de morte, em decorrência do forte estigma que envolve o suicídio.
No Brasil, existem alguns projetos de acompanhamento de policiais, ainda incipientes, visando à preservação da saúde mental e controle de estresse.
No Departamento de Polícia Federal, a Equipe Psicossocial tem atuado nessa direção, estudando e preparando projetos para o incremento da Qualidade de Vida dos servidores, com vistas a promover a conscientização de que todos podemos ser agentes de uma estratégia geral de prevenção ao suicídio, ajudando a identificar os problemas e as possíveis soluções. As ações desta Equipe tem como principal foco a melhoria dos indicadores de saúde dos servidores e, neste contexto, o comportamento suicida é enfocado em uma abordagem preventiva.
Referências:
- Mishara, Brian L. Effects of a Comprehensive Police Suicide Prevention Program. Centre for Research and Intervention on Suicide and Euthanasia. Université du Quebéc à Montreal. 2000.
- IASP guidelines for suicide prevention – The International Association for Suicide Prevention)
- Suicide huge but preventable public health problem, says WHO. (World Health Organization)
- Prieto, Daniela e Tavares, Marcelo. Fatores de risco para suicídio e tentativa de suicídio: incidência, eventos estressores e transtornos mentais. Unb. 2005
Maria da Graça Ballardin
Psicóloga da Equipe Psicossocial
Coordenação de Recursos Humanos/Diretoria de Gestão de Pessoas/ Departamento de Polícia Federal.
Comments are closed.