Ugo Braga
Da equipe do Correio
Carlos Moura/CB |
Rollim (E), com José Alfredo: enviou ofícios a Thomaz Bastos e a Paulo Lacerda, questionando o aviso dado a Renan Calheiros |
Na ocasião, Calheiros informou o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, sobre a busca e pediu-lhe que recebesse e acompanhasse os policiais durante a operação. O procurador Rollim diz que Maia era um dos alvos da investigação. Nas entrelinhas, acusa-o de ter se beneficiado da informação. Ou seja, de ter escondido ou destruído provas, visto que a Polícia Federal não achou nada relevante entre os documentos que retirou de sua gaveta ou nos 16 computadores apreendidos no Senado.
A informação sobre a busca foi dada a Calheiros pelo delegado federal Bergson Toledo Silva horas antes de a operação ser deflagrada. Maia recebeu informação minutos depois, num telefonema do chefe. Para ter destruído provas, teria que ter ido no meio da madrugada ao 3º andar do Anexo I do Senado, onde funciona seu gabinete. Deixaria rastros no caminho — todas as entradas são vigiadas por seguranças, com câmeras de vídeo nos corredores. A despeito de tê-lo acusado, o Ministério Público não apresentou nenhum testemunho dos seguranças ou fitas do circuito interno.
Rixa antiga
O advogado do Senado diz a acusação é tão descabida que o diretor-geral sequer chegou a ser investigado durante o inquérito. Por isso, promete até uma ação por danos morais contra Rollim. Cascais classificou a “atuação do procurador como leviana, temerária e irresponsável”.
A PF divulgou nota oficial repudiando “a indevida acusação de vazamento de informações sobre a Operação Mão-de-Obra”. Ao longo do dia, delegados explicaram ser praxe operacional o aviso de ações em outros órgãos públicos, desde que os detalhes não sejam revelados e a antecedência seja mínima. Inflamou-se novamente a antiga animosidade entre policiais e procuradores.
Luciano Rollim e o outro procurador responsável pelo caso, José Alfredo de Paula Silva, enviaram ofícios ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e ao diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, questionando o aviso dado a Renan Calheiros momentos antes da Operação Mão-de-Obra. Eles prometem uma ação civil pública para acabar com este costume da PF. “Essa prática era feita à revelia do Ministério Público, de forma velada. Era desleal, nunca fomos avisados. Jamais aceitaremos esse tipo de prática”, enfatizou Rollim.
A atuação do procurador foi leviana, temerária e irresponsável |
Alberto Cascais, advogado-geral do Senado
Entrevista – agaciel maia “Acusação não tem cabimento” Diretor-geral do Senado recebeu o Correio e refutou versão do Ministério Público.
Na véspera da Operação Mão-de-Obra, o delegado federal ligou para o senador Renan Calheiros e o senador ligou para o senhor, isso de madrugada. O senhor veio ao Senado esvaziar as gavetas e “limpar” os computadores, ou seja, esconder provas, que é, na prática, do que é acusado pelo procurador? Primeiro, eu não tinha motivo para limpar gavetas. Segundo, seria um absurdo eu sair de casa, já praticamente duas horas da manhã, para vir ao Senado — olhe que não vim nessa noite, nem em nenhuma outra em 30 anos de Senado, no meio da madrugada. Seria muito estranho. Têm câmeras, têm seguranças. O que é verdade, é que o presidente Renan recebeu a ligação e disse apenas que o delegado Bergson me procuraria pela manhã. O senador não deu nenhum outro detalhe? Não. Simplesmente isso. No dia seguinte, quando eu cheguei aqui, na entrada do Senado, tinha mais de uma dezena de policiais e um senhor mais de idade, que era esse Bergson. Eu me apresentei, ele se identificou. Aí ele abriu um papel e disse “eu tenho um mandado de busca e apreensão nas salas A, B e C. Eu queria que você mandasse a Polícia do Senado mostrar essas salas para a gente fazer a apreensão e também no seu gabinete”. Eles vieram, levaram tudo o que pediram. Alguns dias depois, a Polícia Federal pediu novas informações e nós, por solicitação do presidente, mandamos tudo uma ou duas horas depois. Em outras operações de busca, o senhor foi avisado antes? É comum, já aconteceu. Quando é na área política, a polícia se dirige ao corregedor. Quando é na área administrativa, a polícia se dirige ao presidente e ele comunica ao diretor-geral, que sou eu. Aconteceu em outros casos, como o restaurante de Sebastião Buani (no caso Severino Cavalcanti). Então, essa informação de que houve vazamento não tem cabimento, de que eu apaguei computador! Até um leigo sabe que hoje em dia não se apaga mais computador. Os dados podem ser recuperados. O que se investiga é uma quadrilha que frauda contratos e licitações. Como funciona esse setor no Senado? Para fraudar o sistema, teria que corromper 30 pessoas ou mais no Senado, todas com alta formação, extremamente preparadas e com boa remuneração. Além disso, aqui, quem compra não paga, quem paga não recebe, quem emite cheque não assina. Então a possibilidade é remota. Algum funcionário do Senado foi indiciado ou preso no dia da operação? Não. Nenhum funcionário do Senado foi sequer indiciado. A que o senhor atribui a acusação de vazamento? Eu não tenho a compreensão desse pano de fundo. Agora sei que o Senado não está no epicentro da operação, nenhum funcionário do Senado foi preso, indiciado ou denunciado. |
Comments are closed.