Ugo Braga
Da equipe do Correio
Em entrevista coletiva improvisada ontem na saída de um evento, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, meteu a colher na briga do Ministério Público com a Polícia Federal. O MP vem acusando a PF de ter vazado uma ação de busca e apreensão na véspera da operação Mão-de-Obra, feita em julho passado. Bastos apareceu com panos quentes para acalmar os ânimos de uns e de outros. “Estamos todos do mesmo lado”, disse. “O nosso inimigo é o crime, não uma instituição, nem outra”, frisou.
Os procuradores Luciano Rollim e José Alfredo de Paula Silva, responsáveis pela investigação que culminou na operação Mão-de-Obra, dizem que a PF avisou com antecedência ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a realização da busca em várias diretorias do Senado, inclusive na mais poderosa delas, a diretoria-geral. Dão a entender que com isso os funcionários do Senado ganharam a oportunidade de esconder ou destruir provas de eventuais ligações com a máfia que fraudava licitações na área de terceirização de mão-de-obra.
Calheiros de fato recebeu a informação sobre a busca antes da ação da PF. Segundo ele, o aviso teria sido dado pelo delegado federal Bergson Toledo Silva, a 1h da madrugada do dia da operação. O presidente do Senado, então, telefonou ao diretor-geral, Agaciel Maia, pedindo-lhe que recebesse os policiais dali a algumas horas, na manhã seguinte, e acompanhasse a ação dentro do prédio. Tanto Calheiros quanto Maia afirmam que não sabiam do que se tratava, apenas que haveria a busca. Os policiais apreenderam 16 computadores e vários quilos de documentos, alguns deles das gavetas da mesa de trabalho do diretor-geral. Mas não havia nada comprometedor entre eles.
Embora tenha mantido o tom de moderador, Bastos lançou faíscas na direção dos procuradores, que ontem protocolaram correspondência endereçada a ele, questionando a atitude da PF. O ministro informou não ter recebido ofício, solicitação ou reclamação de autoridade competente para falar-lhe: “O procurador-geral da República é que tem competência para dirigir-se a mim”.
No meio político, correm diversas versões para a briga do MP com a PF. A mais credenciada delas afirma que o torpedo contra Agaciel Maia é endereçado, na verdade, a Renan Calheiros. O senador é amigo pessoal do delegado Bergson Toledo Silva, alagoano como ele, que já recebeu convites para a direção geral da PF e nunca aceitou. Como Renan sairá das eleições em alta com o Planalto, setores da PF trataram de atirar na dupla desde já, para cortar na raiz a possibilidade de o afilhado ser nomeado para a direção geral num eventual segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
O nosso inimigo é o crime, não uma instituição, nem outra |
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