Depois de quase três horas e meia de reunião e uma clara divisão entre seus integrantes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic), de 0,50 para 0,25 ponto percentual. A medida contrariou as pressões explícitas dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, para mais ousadia do BC e funcionou como um contraponto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado com toda a pompa pelo presidente Lula na última segunda-feira. “Com essa decisão, o Copom reforçou a sua autonomia operacional, o que é fundamental para a credibilidade da política monetária”, disse Rodrigo Éboli, economista da Mellon Global Investments.
Ao derrubar a Selic de 13,25% para 13% ao ano, o Copom sancionou a sua preocupação com a expansão fiscal trazida pelo PAC, já que as medidas de corte de impostos e de aumento de gastos terão efeito sobre o consumo mais rápido do que o incremento dos investimentos produtivos. Ou seja, a demanda, que já está aquecida, crescendo acima de 5% ao ano, será fortalecida pelo pacote, enquanto o aumento da produção se dará de forma mais lenta, devido à demora da maturação dos investimentos. Esse descompasso pode resultar no que os economistas chamam de inflação de demanda, o que o BC quer evitar a qualquer custo. “O PAC se tornou um problema a mais para o BC administrar”, disse o economista Ivo Chermont de Vascocellos, do Banco Modal.
Perto do fim
Ao divulgar sua decisão, o Copom sinalizou que, a partir de agora, os cortes da Selic serão menores, uma vez que a economia ainda não sentiu todos os efeitos da flexibilização da política monetária iniciada em setembro de 2005 — a taxa já caiu 6,75 pontos desde então. Para Rodrigo Éboli, o BC interromperá o processo de queda da Selic no último trimestre do ano. Os juros, acredita ele, baixarão 0,25 ponto nas reuniões do Copom de março, abril, junho, julho e setembro, mantendo-se estáveis em 11,75% nos encontros de outubro e dezembro. “Esse será o período em que o BC avaliará até que ponto a Selic poderá cair, sem que o país volte a enfrentar riscos de inflação”, destacou o economista da Mellon.
O conservadorismo do BC, endossado por cinco dos oito integrantes do Copom — três votaram por uma redução de 0,50 ponto — provocou protestos do setor produtivo. O presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura a Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, que havia demonstrado grande otimismo com o pacote econômico de Lula, afirmou: “Tem alguma coisa errada. O PAC pede para o setor produtivos acelerar (os investimentos), mas o Copom pede para frear”. O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, endossou as críticas. “Nem parece que o Copom integra o mesmo governo que, há apenas dois dias, anunciou um grande e abrangente programa voltado à expansão do PIB. É paradoxal”, disse. E emendou: “O recuo da Selic, de 13,25% para 13%, é insuficiente para referendar a confiança dos setores produtivos no PAC e no discurso de crescimento pronunciado pelo presidente Lula”.
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