Operação Navalha
Juíza interrogará governadores
Jackson Lago, Teotônio Villela Filho e ex-ministro Silas Rondeau estão intimados a depor quarta-feira no STJ
Fernanda Odilla e Marcelo Rocha
Da equipe do Correio
Cadu Gomes/CB |
Gil Jacó (E) e Henrique Garcia: depois de prestarem depoimentos, os dois foram liberados pela ministra do STJ Eliana Calmon |
Os três delegados já tiveram a quebra dos sigilos fiscal e bancário autorizada pela ministra. Hoje, Eliana Calmon se reúne com representantes do Ministério Público Federal (MPF) para traçar, em especial, as estratégias da devassa patrimonial da Construtora Guatama e dos 49 suspeitos de participar do esquema de fraudes em licitações e obras públicas. Ontem, Eliana Calmon convocou cinco suspeitos presos para depor. Soltou quatro, entre eles o filho do dono da Gautama, Rodolpho Veras.
Vencida a fase de depoimentos no STJ, a ministra quer se concentrar nas movimentações financeiras dos suspeitos, em busca de mais provas. Para isso, vai analisar os já quebrados sigilos fiscal e bancário dos principais integrantes do esquema. A Polícia Federal vai se aprofundar no material apreendido no dia da operação e se prepara para uma segunda fase da investigação, que é a análise e cruzamentos de dados da contabilidade dos suspeitos e de suas empresas. As informações serão cruzadas com dados bancários e fiscais dos suspeitos.
O levantamento pode revelar pagamento de propina a agentes públicos que, em troca, teriam interferido a favor da Gautama em licitações públicas. No inquérito há referências a vários parlamentares que agiriam como contato dos responsáveis pelas irregularidades. Há indícios também de que a Gautama desfrutava de uma rede de empresas de fachada para tocar os negócios fraudulentos.
O Correio revelou, na edição de 26 de maio, que auditores do Fisco já detectaram, por exemplo, indícios de que Zuleido Veras se aproveitou da empresa do próprio filho, Rodolpho, e da empresa em nome do diretor da Gautama Abelardo Lopes Filho para participar de licitações. Rodolpho e Abelardo foram ouvidos ontem pela ministra Eliana Calmon, que colheu os cinco últimos depoimentos dessa fase da investigação.
Mentira e omissão
A primeira a falar foi Tereza Lima, secretária da Gautama, acusada de participar do esquema providenciando o pagamento de propinas. Ela teve a prisão revogada, apesar de a ministra ter afirmado que Tereza mentiu e omitiu informações durante as duas horas em que prestou depoimento. A ministra Eliana Calmon decidiu soltá-la sob o argumento de que a secretária não oferece riscos à coleta de provas. Abelardo Filho, por sua vez, continuou preso.
O depoimento do filho do dono da Gautama, Rodolpho Veras, durou mais de três horas. Ele também teve a prisão revogada assim como Henrique Garcia, responsável pelo transporte de recursos e administrador de uma fazenda do grupo. As investigações da Polícia Federal indicam que Garcia teria exercido papel relevante na lavagem dos lucros dos integrantes do esquema, comprando e vendendo gado para dar fachada legal ao dinheiro “sujo”.
No último dia de depoimento, foi ouvido e solto também Gil Jacó, diretor financeiro da Gautama. De acordo com a PF, ele era um dos responsáveis por providenciar dinheiro para o pagamento das propinas. O último da lista de ontem era Abelardo Lopes Filho, que aparece como dono da Trópicos Empreendimento e Construção, sob suspeita por atuar como empresa de fachada nos contratos irregulares firmados por Zuleido Veras. Ele continua preso por, na avaliação da ministra, ter caído em contradição em diferentes momentos do depoimento.
Zuleido espera decisão do STF
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes adiou pela segunda vez a análise do pedido de liberdade de Zuleido Veras, dono da construtora Gautama. Sob o argumento de que as informações do Superior Tribunal de Justiça (STJ) chegaram somente no final da tarde de ontem, o ministro não apreciou o habeas corpus de Zuleido e de Vicente Vasconcelos Coni, funcionário da Gautama, que também continua preso. Os advogados da construtora também recorreram ao STF para soltar Maria de Fátima Palmeira, diretora comercial da empresa, e João Manoel Soares Barros, empregado da Gautama no Piauí. Os quatro suspeitos já estiveram com a ministra Eliana Calmon, do STJ, que decidiu mantê-los presos. Zuleido Veras preferiu o silêncio, se recusando a responder as questões formuladas pela ministra. Fátima, por sua vez, prestou o mais longo dos 46 depoimentos prestados a Eliana Calmon. Apesar de ter passado mais de oito horas apresentando uma versão para as gravações e imagens flagradas pela Polícia Federal, Fátima teve a prisão mantida. Ela negou que tenha ido ao Ministério de Minas e Energia levar dinheiro para o assessor do então ministro Silas Rodeau, Ivo Costa. De acordo com os advogados da Gautama, Fátima não falou o que Eliana Calmon queria ouvir e, por isso, precisou voltar à carceragem da PF. João Manoel Barros e Vicente Vasconcelos Coni também falaram com a ministra. Contudo, ela não se convenceu das explicações dos dois empregados da Gautama e manteve a prisão dos dois. Sônia Ráo, no sábado, classificou como “injustiça” o fato de apenas funcionários da Gautama continuarem presos. Tudo indica que os suspeitos longe das grades da carceragem da PF possam atrapalhar a segunda etapa da investigação. Ontem, Eliana Calmon decidiu soltar a secretária da Gautama, Tereza Lima, com o argumento de que ela não oferecia “riscos à coleta de provas”. Zuleido e Fátima são apontados como o cabeça e a operadora, respectivamente, do esquema de fraude de licitações e obras públicas. (FO) |
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