Vera Rosa e Tânia Monteiro, BRASÍLIA
Em reunião com a coordenação política do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou ontem preocupação com possíveis excessos cometidos nas investigações da Polícia Federal e disse que a corporação precisa ter cuidado com vazamentos de conversas grampeadas para não expor suspeitos sem provas. COLABOROU LEONENCIO NOSSA
Lula reiterou que não acredita no envolvimento de seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, com a máfia dos caça-níqueis. Foi a primeira vez que o presidente fez um reparo à condução dos trabalhos da PF desde o início da Operação Xeque-Mate. “A Polícia Federal tem de investigar o que tem de ser investigado, mas é preciso ter cuidado com os processos de investigação para evitar os excessos”, afirmou, de acordo com ministros que participaram da reunião, a portas fechadas, no Palácio do Planalto.
O governo está preparando um projeto que restringe o uso das escutas telefônicas nas investigações. Pela proposta que está em debate, a polícia só poderia utilizar grampos nas apurações com a autorização do Ministério Público.
Ao ouvir ontem o relato do ministro da Justiça, Tarso Genro, sobre o andamento das investigações da PF, Lula afirmou que muitas vezes os vazamentos de escutas telefônicas expõem os investigados de forma irreparável. “Depois, quando se vai ver, não é bem assim e a vida da pessoa já está arruinada, como ocorreu no caso da Escola Base”, argumentou.
O episódio a que se referiu o presidente ocorreu em março de 1994, em São Paulo. Os donos da Escola Base foram massacrados publicamente depois de serem acusados de abusar sexualmente de alunos. O caso virou manchete, a escola foi depredada, mas a Justiça concluiu pela inocência dos acusados.
DECEPÇÃO
Lula avalia que Vavá foi um inocente útil, como definiu o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Em conversas reservadas, porém, o presidente mostrou decepção com o comportamento de Dario Morelli Filho, seu compadre, que foi preso na Operação Xeque-Mate, acusado de ser sócio de uma casa ilegal de máquinas caça-níqueis.
Sindicância da PF apontou que Vavá, indiciado em inquérito, foi aliciado por Morelli para o negócio.
Morelli é muito próximo de Lula e de Marisa Letícia, a primeira-dama. Foi ele quem registrou um boletim de ocorrência quando uma propriedade rural do presidente transformou-se em alvo de assaltantes durante o primeiro mandato.
O compadre de Lula fez o mesmo quando Marisa teve um objeto roubado. “Conheço ele das festas do PT”, disse o filho de Vavá, na semana passada.
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