Arthur Wascheck, empresário que denunciou fraude em licitações desbaratada em 2005, é preso por agentes federais. MP o acusa de herdar esquema de corrupção milionário dentro da estatal
Edson Luiz
Da equipe do Correio
Marcelo Ferreira/CB – 14/6/05 |
Wascheck, ao sair da sede da PF em 2005: agora é acusado de receber informações privilegiadas para ganhar concorrências nos Correios |
Entre os presos estão Sérgio Dias e Luiz Carlos de Oliveira Garritano, funcionários dos Correios, além dos empresários Antônio Félix Teixeira, Marco Antônio Bulhões e Arthur Wascheck, considerado pela PF como líder do grupo e acusado de ter sido o responsável pela gravação feita no dia em que Marinho recebia a propina. Os investigadores não quantificaram o volume de recursos envolvidos nas fraudes, mas calculam que seja de dezenas de milhões de reais.
Para investigadores, o grupo agia como traficantes nos morros: quando uma quadrilha sai de cena, outra assume o lugar. Isso porque a quadrilha presa ontem herdou o esquema da anterior. “Havia uma quadrilha na ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), que foi desbaratada e afastada. A outra organização tomou o lugar dela. Assim como os traficantes fazem, quando saem, morrem ou são presos, acontece a mesma coisa no serviço público. Quando uma quadrilha sai do local, entra outra e começa a praticar atos ilícitos no lugar da que saiu”, explica o delegado Daniel França, um dos integrantes do grupo de investigação.
Para o Ministério Público Federal, o entendimento é o mesmo. “Não se pode dizer que a corrupção terminou ou se atenuou. O que houve foi uma substituição de pessoas, alijadas do esquema”, afirma o procurador da República Bruno Acioli. Segundo ele, há pelo menos 20 empresas, muitas delas ligadas a Wascheck, estão envolvidas nas fraudes que podem atingir outros órgãos públicos, conforme investigações da PF.
O empresário, conforme os investigadores, atuava na área de licitações desde 1994, sendo que um ano depois ele fora condenado por irregularidades em licitação para aquisição de bicicletas pelo Ministério da Saúde. Wascheck foi preso em Brasília, em seu apartamento no Sudoeste. O esquema herdado pelo grupo liderado pelo empresário era o mesmo utilizado nas fraudes em que Maurício Marinho estava envolvido. “As quadrilhas tinham várias formas de atuar, entre as quais, o conluio, fixação de preços para escolher antecipadamente o vencedor de uma licitação”, explica Acioli.
Vantagem
Na investigação, a PF e o Ministério Público descobriram que o grupo mantinha também ramificações dentro dos Correios. “Era uma quadrilha nas quais participavam empresários e empregados da empresa. Vários documentos apreendidos há dois anos comprovam que os membros da quadrilha tinham acesso a informações privilegiadas na fase pré-licitatória. E de posse das informações, tinham como atuar com vantagem aos concorrentes”, explica Acioli.
Segundo a polícia, o grupo de Wascheck vendia todo tipo de material para os Correios. De sapato a cofres, sendo que muitos integrantes do esquema eram também procuradores de outras empresas envolvidas nas concorrências. Com a análise dos documentos, que começou a ser feita ontem, os investigadores devem chegar aos valores das fraudes. “O que posso dizer é que esse prejuízo é de milhões de reais. Dezenas de milhões de reais”, diz o procurador da República, ressaltando que seu cálculo se baseia em alguns casos específicos. “Existem licitações na casa de bilhões de reais”, afirma o procurador.
A assessoria dos Correios afirmou que a instituição só irá se pronunciar depois de ser oficialmente informada sobre a investigação. O advogado Cléber Lopes Teixeira, no final da tarde de ontem, ainda não tinha tido acesso ao processo que envolve seu cliente, Arthur Wascheck.
Memória Estrago no governo A Operação Selo é a segunda parte da investigação que causou a primeira e talvez a maior crise política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De escândalo dos Correios, o caso se desdobrou no mensalão, uma referência a pagamentos supostamente feitos para parlamentares da base governista, conforme acusou o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que teve seu partido citado pelo ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho na gravação feita por ex-integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a serviço do empresário Arthur Wascheck. A partir do flagrante em torno de Marinho, que seria afilhado político de Jefferson, a crise começou e demorou pelo menos um ano para terminar. O ex-deputado acusou o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu de ser o articulador do esquema que o envolveu na história. Em uma entrevista, Roberto Jefferson desabafou e contou sobre o pagamento de parlamentares. Citou alguns nomes de aliados do governo. Foi depor e voltou a fazer novas revelações, colocando o governo em uma situação difícil, apesar de o ex-deputado ressaltar que o presidente Lula nada tinha a ver com o esquema. Maurício Marinho, apesar de ser flagrado recebendo R$ 3 mil de propina, foi indiciado por fraudes em licitações e corrupção passiva, mas não chegou a ser preso. Pouco depois, foi demitido dos Correios por justa causa. Roberto Jefferson teve seu mandato cassado, enquanto que José Dirceu saiu da Casa Civil. Ao retornar à Câmara dos Deputados, ele foi também cassado, junto com Pedro Corrêa (PP-PE). Para se livrarem da cassação, renunciaram ao mandato os deputados José Borba (PMDB-PR), Paulo Rocha (PT-PA), Bispo Rodrigues (PL-RJ) e Waldemar Costa Neto (PL-SP). (EL) |
O esquema
As denúncias Começam as primeiras investigações em torno das fraudes dos Correios. O ex-chefe de contratação e administração dos Correios Maurício Marinho é flagrado recebendo propina de R$ 3 mil (foto). Nesse momento a Polícia Federal e Ministério Público Federal descobrem o sistema de fraudes na instituição. Marinho, em gravações flagradas, revela que o esquema era para o PTB, citando o então presidente do partido, Roberto Jefferson (RJ). A partir daí, iniciou uma das maiores crises políticas do governo. Jefferson denunciou a existência do mensalão para parlamentares da base governista. Os fatos detectados pela investigação Tipos de fraudes |
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