Marcelo Rocha
Da equipe do Correio
Evelson de Freitas/AE – 23/7/07 |
REPROVADO Engenheiros constatam que, mesmo em caso de chuva normal, asfalto não oferece atrito suficiente |
O Correio apurou que a pista de Congonhas foi reprovada em exames feitos sob condições normais de chuva — ou seja, sob as mesmas condições de tempo verificadas no dia da tragédia. Os coeficientes de atrito variaram de 0,35 a 0,48 para lâminas d´água entre 1,5 mm a 2,5 mm. Portanto, abaixo do índice de 0,50 para 1 mm de lâmina d´água, previsto pela Aeronáutica. Outros testes, incluindo medições da Infraero, constataram que o nível de atrito da pista cumpriu o padrão, mas eles foram realizados sem chuva e com lançamento voluntário de água sobre o asfalto. O coeficiente de atrito expressa a resistência a derrapagens entre o avião e a pista.
A principal reclamação dos comandantes das aeronaves que utilizaram Congonhas no dia do desastre com o avião da TAM foi a de que a pista estaria “muito lisa, um sabão”. Os aeronautas argumentaram que a falta de atrito levou um avião da empresa Pantanal a derrapar na segunda-feira, um dia antes do acidente. Depois de realizar o teste padrão, os peritos do INC entenderam que seria necessária uma segunda avaliação. Desta vez, sob chuva, decisão que, embora prevista na legislação do setor, não agradou às demais autoridades envolvidas na apuração.
Teste adicional
A segunda medição realizada pelos peritos tem o respaldo da Convenção de Aviação Civil Internacional. O item 7.5 do Volume 1 do normativo diz: “quando houver suspeita de que as características de atrito de uma pista de pouso e decolagem podem ser reduzidas em decorrência de drenagem inadequada, devido a declividades inadequadas ou depressões, então um teste adicional deveria ser realizado, porém dessa vez sob condições normais que representem uma chuva”. Num outro trecho, ele afirma que “os resultados do teste são então mais adequados para identificar áreas problemáticas com baixos teores de atrito que podem induzir aquaplanagem”.
Os peritos criminais realizaram testes de engenharia, levantamento topográfico, estudaram a declividade da pista e o escoamento da água. Fizeram 21 perfurações na pista para coletar material para ser analisado em laboratório. Entre outros testes, eles avaliam a composição química e a rugosidade do asfalto. Oito peritos foram escalados para a tarefa. Eles são engenheiros com mestrado ou doutorado em pavimentação asfáltica. Os resultados dos testes serão cruzados com as medições do coeficiente de atrito para avaliar as condições de segurança da pista. Haverá um laudo final.
Por determinação da Justiça, a Polícia Federal terá acesso a todos os dados das caixas-pretas do Airbus A-320, analisados nos Estados Unidos. Essas informações serão inseridas pelos peritos criminais em um simulador programado para reproduzir condições da pista sem chuva. O teste ajudará a descobrir o quanto a pista do aeroporto de Congonhas teria contribuído para o desastre. Até agora, as principais causas apontam para falha humana e defeito mecânico da aeronave.
Insuficiente Índice de atrito chegou a ser de 0,35 mm em lâminas d’água entre 1,5mm e 2,5mm, abaixo do coeficiente de 0,50mm recomendado |
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