Gustavo Krieger
Da equipe do Correio
Daniel Ferreira/CB |
Renan Calheiros: ataque ao senador José Agripino (RN), líder da bancada do DEM, foi coreografado com o objetivo de convencer aliados |
O ataque ao senador José Agripino (RN), líder da bancada do DEM, também foi coreografado. Renan tinha por escrito a frase na qual lembrava que o adversário tem concessões de emissoras de rádio e TV, além de financiamentos em bancos estatais, e provocava dizendo que Agripino “não agüentaria por duas semanas” uma investigação como a que ele vem sofrendo. O senador ainda chamou Agripino para a briga ao falar do “caráter rasteiro” dos parlamentares que apresentam denúncias contra ele. Minutos antes, o líder do DEM anunciara que sua bancada preparava uma representação contra Renan em conjunto com o PSDB.
O senador aceitou a provocação e foi ao microfone para apartear Renan. O presidente do Senado lançou seu ataque e começou a discussão. Ele tinha dois objetivos ao fazer isso. O primeiro era mais uma vez caracterizar a campanha contra ele como uma disputa entre governo e oposição. Com isso espera manter o apoio do Palácio do Planalto e garantir os votos dos senadores governistas. Seu segundo objetivo era deixar uma ameaça no ar. Mostrou que pode abrir fogo contra os adversários com denúncias, da mesma forma como vem sofrendo. Não seria a primeira vez. O peemedebista, que foi um dos articuladores da eleição de Fernando Collor para a Presidência da República, rompeu com o governo dele e deu uma entrevista com fortes acusações. Essa entrevista foi importante para a queda de Collor.
É uma estratégia arriscada. O Senado é uma espécie de clube de cavalheiros, onde as disputas costumam ser disfarçadas com ironias e falsas cortesias. Os dois casos mais recentes em que parlamentares importantes quebraram essa regra terminaram mal. Em 2000, Jader Barbalho (PMDB) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) trocaram insultos e acusações no plenário. Ao final da briga, os dois tiveram de renunciar para evitar a cassação. Mas Renan acredita no apelo ao espírito de corpo.
Sinais
Depois da sessão de terça-feira, ele comemorou com aliados. Festejava o silêncio do plenário. Havia 64 senadores presentes e apenas três deles compraram o convite para a briga. E eram três que tinham a obrigação de fazê-lo. O próprio Agripino; o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM); e o senador José Neri (PSol-PA). Justamente os três partidos que representaram contra Renan no Conselho de Ética. Para o presidente do Senado, a postura cautelosa dos colegas é um bom sinal.
É difícil fazer previsões. Os senadores sentem-se pressionados pela opinião pública e pela imprensa. Assim, poucos assumem publicamente o apoio a Renan. Já nas conversas reservadas que tem com o presidente do Senado, a imensa maioria jura que votará por sua absolvição. Essa é a resposta polida e politicamente mais cuidadosa, mas é impossível saber quantos estão mentindo.
Renan aposta em seu conhecimento dos meandros do plenário. Espera repetir o que aconteceu na eleição para a presidência da Casa, em fevereiro, quando teve um número de votos muito acima das previsões dos adversários. Desta vez, não há espaço para erros. Se sua avaliação estiver incorreta, perderá o mandato.
CONTRA-ATAQUE
Renan Calheiros pediu ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que abra uma investigação sobre a operação de venda da emissora de TV a cabo TVA. Ele sustenta que a negociação seria ilegal porque o comprador é um grupo estrangeiro. Há dois dias Renan vem atacando a editora Abril, em represália às denúncias contra ele feitas pela revista Veja. Na representação, ele inclui o parecer de um conselheiro da Anatel, condenando a transação.
Três processos no Conselho O Conselho de Ética do Senado vai tratar como processos separados as três representações apresentadas contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). O objetivo é não atrasar o julgamento do processo mais adiantado, que investiga a suspeita de que ele teria recebido dinheiro de um lobista para pagar despesas pessoais. “Não haverá nenhum adiamento. O processo que está em andamento será votado no menor prazo possível”, diz o presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO). Quintanilha chegou o propor que o triunvirato de relatores encarregado da primeira representação assumisse também as outras duas, mas os senadores recusaram por temer o acúmulo de trabalho. Com isso, ele terá de encontrar voluntários para relatar os dois novos casos. Um é a representação na qual o PSol acusa o presidente do Senado de atuar como lobista para a cervejaria Schincariol. A outra, apresentada pelas bancadas do DEM e PSDB, pede investigação da suspeita de que ele teria usado laranjas para comprar um jornal e duas emissoras de rádio. Na verdade, os senadores acreditam que o destino de Renan será decidido com o julgamento da representação original. Ela deve ser levada a voto secreto em plenário no final de setembro. Se ele for condenado, perderá o mandato e os outros processos serão arquivados. Se vencer, dará uma demonstração de força tamanha que desestimulará o andamento das outras investigações. Por isso, há pouca prioridade para os dois outros casos. (GK) |
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