Análise da PF sobre papéis de Renan confirma relatório anterior e indica problemas, entre eles custos pequenos das fazendas. Técnicos vão avaliar extratos de Mônica Veloso e parecer só será entregue na segunda
Edson Luiz e Gustavo Krieger
Da equipe do Correio
Iano Andrade/CB |
O presidente do senado, Renan calheiros: despesas pequenas das fazendas e aumento do rebanho chamaram atenção de peritos |
A revista Veja acusou o senador de usar dinheiro do lobista ou da empreiteira para pagar a pensão. Renan nega e diz que bancou a pensão com recursos pessoais. A perícia da PF investiga se isso é possível. Ontem o Conselho de Ética enviou à polícia os extratos de Mônica. Os peritos da PF vão comparar os documentos com os extratos bancários do senador e suas declarações de Imposto de Renda. O objetivo é saber se as entradas de dinheiro na conta de Mônica coincidem com retiradas das contas de Renan e se ele tinha condições de bancar a despesa.
Diante dos novos documentos, a PF pediu mais prazo para concluir a perícia. O laudo será dividido em quatro quesitos, sendo o primeiro uma apresentação sobre todas as questões levantadas na perícia. Em seguida, os peritos farão um histórico do primeiro laudo e os cruzamentos feitos com o segundo, que será apresentado na segunda-feira. Os técnicos do INC mostrarão que documentos foram analisados e o objetivo de cada item, examinado. Ao final, cada uma das 30 perguntas do Conselho de Ética será respondida e explicada pelos peritos.
Primeiras suspeitas
O primeiro laudo, produzido em apenas três dias, apontou uma série de suspeitas nas operações de venda de gado das fazendas de Renan. Há casos de notas fiscais emitidas fora de ordem e outros em que o número de animais constantes da nota fiscal de venda é diferente do registrado na Guia de Trânsito. A diferença chegaria a 511 bois. Por lei, as notas teriam de ser iguais às guias de transporte. Dessa vez, a PF ampliou a perícia aos documentos contábeis das fazendas do senador. Alguns dados causaram estranheza. Os peritos avaliam que o senador registrou custos muito pequenos para suas fazendas, o que elevaria artificialmente sua margem de lucro. Também chamou atenção o crescimento do rebanho, acima da média dos criadores de gado no Brasil.
Ontem, o diretor Técnico-Científico da PF, Geraldo Bertolo, a quem o INC está vinculado, passou o dia reunido com o diretor-geral da instituição, Paulo Lacerda, provavelmente tratando do laudo. Pela manhã, o ministro da Justiça Tarso Genro reclamou de vazamentos de informações da perícia pela imprensa.
PETISTA VAI SER RELATOR
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), anunciou ontem que o senador João Pedro (PT-AM) será o relator do processo que vai investigar se o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atuou como lobista da cervejaria Schincariol. Ao anunciar o relator, Quintanilha disse que o caso deveria ser analisado na Câmara por envolver o irmão de Renan, Olavo Calheiros (PMDB-AL), que teria vendido uma fábrica de cerveja à Schincariol. “Eu percebo que esse processo seria pertinente de uma análise da Câmara”, disse Quintanilha.
Lula: “Senado já poderia ter resolvido” Renan Calheiros estava de bom humor ontem. Dividiu a mesa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante um almoço no Itamaraty e saiu da conversa sentindo-se fortalecido. À tarde, afirmou que a crise que ameaça seu mandato não vai parar o Senado, apesar da ameaça da oposição de obstruir todas as votações enquanto ele continuar na presidência da Casa. Ele aposta no apoio do Palácio do Planalto para vencer o boicote da oposição e voltou a descartar a possibilidade de deixar a Presidência, mesmo que temporariamente. “O afastamento seria concordar com as calúnias que lançar contra mim”, disse. Em uma conversa com jornalistas após o almoço no Itamaraty, Lula negou que o caso Renan esteja emperrando o Congresso. “O Senado poderia ter resolvido esse assunto em uma semana, mas não resolveu”, disse o presidente. “Parece que o Renan apresenta os documentos e a oposição não aceita. Mas esse é um problema do Senado, e a questão do Renan não está prejudicando as votações. Na semana passada eles votaram muita coisa.” Não está sendo fácil para a oposição manter a obstrução até o julgamento de Renan, como decidiram as bancadas do DEM e do PSDB. É que a pauta de votação tem assuntos que interessam não apenas ao governo mas também à base desses partidos. Na semana passada, foi a votação do projeto que dava benefícios tributários a milhares de empresas. Apesar da crise, a proposta foi aprovada. Agora, está na pauta um projeto que renegocia dívidas de produtores rurais. A pressão para sua votação é enorme. Renan sabe que a normalidade nas votações será um sinal de força. Conciliação Nos últimos dias, Renan adotou um discurso de conciliação com os senadores, mesmo os de oposição. Aposta nisso para ser absolvido se o caso dele chegar a julgamento em plenário. Ele está mais confiante, mas reservadamente os senadores dizem que seu destino depende de dois fatos. O mais importante é a perícia da Polícia Federal em sua contabilidade, que será concluída na próxima semana. O outro é o depoimento hoje de seu adversário João Lyra ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). Ontem, Renan redobrou os ataques a Lyra. “Eu quebrei meu sigilo, abri as minhas contas, era importante que esse João Lyra fizesse isso antes de dizer qualquer coisa. Ele, ressentido, perdeu eleição com 350 mil votos, atribui a mim grande parte dessa derrota, perdeu a liquidez, obtém mais de três mil títulos protestados. O que ele disser em relação a mim será sempre suspeito”, declarou. (GK) |
Nova denúncia sobre jornal Uma nova testemunha, ouvida ontem pelo Jornal da Globo, confirmou que vendeu um jornal ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de manter uma sociedade secreta com o ex-deputado e usineiro João Lyra. O empresário Luiz Carlos Barreto, que não gravou entrevista, disse que passou o controle acionário de O Jornal, nome de sua empresa, para o senador. O negócio teria ocorrido na década de 90. Segundo Barreto, todos os funcionários do jornal tinham conhecimento de que o proprietário era Renan Calheiros. Lyra presta depoimento hoje, às 16h em Maceió, ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), sobre a terceira denúncia envolvendo Renan . Lyra diz ter sido sócio de Renan em um negócio de compra de duas rádios e de um jornal em Alagoas, no qual o presidente do Senado teria pago em dinheiro vivo e usado laranjas para obter os veículos de comunicação.Tuma convidou Lyra na segunda-feira por telefone. |
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