Eles, que são primos e atuavam como informantes da Polícia Civil, dizem que investigavam por conta própria
Pedro Dantas, RIO
Os cabos Tito Lívio de Paula Franco e Antônio Lázaro da Silva Franco se entregaram em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O cabo Lázaro foi reconhecido pelo ex-chefe, o coordenador das emergências do Estado, Carlos Alberto Chaves, que viu as imagens feitas pelo fotógrafo Fábio Motta, publicadas ontem pelo Estado. Ele acionou a Delegacia Anti-Seqüestro. “Todos os indícios apontam que o terceiro homem era um policial civil ou militar”, disse o delegado titular da DAS, Fernando Morais, que passou a coordenar as investigações. Ele acredita no envolvimento de mais pessoas na quadrilha, que estaria atuando havia meses.
As suspeitas do titular da DAS foram confirmadas ontem à tarde, quando o dono de uma padaria reconheceu a dupla presa como os responsáveis por outro seqüestro para extorsão, ocorrido na semana passada. O comerciante contou que, a exemplo do caso do empresário da Barra, ele foi seqüestrado nas proximidades da padaria, na Gávea, sob a falsa acusação de lavagem de dinheiro pelos impostores, que em seguida exigiram dinheiro em troca da liberdade da vítima.
O comerciante disse aos seqüestradores que não tinha dinheiro para pagar a quantia e convenceu os criminosos a o abandonarem na Avenida Brasil. Em depoimento na DAS, os primos negaram todos os crimes e disseram que investigavam empresários e comerciantes por conta própria. E acusaram M.A.S. de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
“Eles contaram que se vestiam como agentes federais porque dava mais imponência. Lógico que não dá para acreditar em nada”, disse o delegado da 16ª DP, Carlos Augusto Nogueira Pinto. Tito e Lázaro acusaram o comparsa de fugir com os R$ 30 mil do empresário, que seriam usados numa transação de troca de dólares forjada pela quadrilha. Eles foram indiciados por roubo qualificado, formação de quadrilha e falsidade ideológica – as penas podem chegar a 30 anos de prisão.
“Eu admito até que possa ter policiais envolvidos. Esse tipo de crime, de extorsão é muito comum na atividade policial”, disse Morais. O delegado acrescentou que, dos quatro seqüestros registrados este ano, três tinham envolvimento de PMs.
A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar a utilização indevida dos símbolos da corporação. E o Corpo de Bombeiros abriu sindicância, que pode determinar a expulsão dos dois cabos.
A forma como a prisão dos cabos foi feita causou mal-estar na polícia. Eles não foram algemados nem apresentados à imprensa, como é costume da polícia fluminense. “Na minha delegacia, eles seriam apresentados como foram os jovens de classe média que espancaram a doméstica. Isso não foi decisão minha e não vou comentar mais o assunto. Não tenho vaidades e vou continuar auxiliando a DAS”, disse Nogueira Pinto.
Fernando Morais negou qualquer acordo. À tarde, ele atribuiu a decisão de não apresentar os presos ao delegado Nogueira Pinto. À noite, disse que não os apresentaria porque “muita coisa suja ainda estava sendo investigada”. Dois funcionários da casa de câmbio foram ouvidos na DAS e negaram envolvimento no caso.
O empresário M.A.S. está hospedado com a família na casa de um amigo, no Rio. Apesar de muito assustado, ele não pretende deixar o Estado. Parentes contaram que a maior preocupação da família é com a segurança. O empresário pediu aos delegados que comandam a investigação que dispensassem sua presença da acareação com os bombeiros presos.
Proprietária legal do Honda Civic usado pelos bombeiros, a administradora de empresas Patrícia Meireles Notari, de Salvador (BA), disse ter vendido o veículo para um empresário de Lauro de Freitas, em 2005. Segundo ela, ele não pagou as prestações e o carro não chegou a ser transferido para o nome dele.
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