QUEBRA DE DECORO
Renan e oposição na briga por últimos votos
Com previsão de resultado apertado, cassação do presidente do Senado será decidida em sessão secreta na quarta. Peemedebista tenta reforçar laço com Planalto e provocar dissidências no DEM e no PSDB
Gustavo Krieger
Da equipe do Correio
Carlos Moura/CB – 6/9/07 |
Renan passou o fim de semana em Alagoas traçando estratégia: eventual absolvição por margem pequena manteria oposição no ataque |
Segundo o regimento do Senado, a sessão de julgamento de Renan será secreta. A reunião está marcada para quarta-feira pela manhã. Nem mesmo assessores de parlamentares poderão assistir à reunião. Os discursos não serão registrados. Um grupo de senadores, capitaneado pelos petistas Eduardo Suplicy (PT-SP) e Delcídio Amaral (PT-MS), quer tentar mudar as regras e fazer com que a parte de debates da sessão seja aberta. É muito difícil que isso aconteça. Seria necessário um acordo de todos os líderes para que uma mudança no regimento fosse aprovada tão rapidamente, e essa alteração não interessa aos aliados de Renan.
O voto será secreto, ao contrário do que aconteceu no Conselho de Ética. Essa é a esperança de Renan. Ele foi derrotado todas as vezes que seu caso foi submetido a votações abertas, seja no Conselho, na Mesa Diretora ou na Comissão de Constituição e Justiça. Avalia que isso se deve à pressão da mídia por sua condenação. Espera que isso não se repita na votação secreta.
Maioria absoluta
São 81 senadores. Para que Renan seja cassado, é preciso que 41 deles votem pela condenação. Qualquer outra posição, incluindo ausências ou abtenções, contam a favor do presidente do Senado. Mas Renan sabe que precisa obter uma vitória significativa se quiser superar a crise política. Mesmo se for absolvido na quarta-feira, ele ainda terá de enfrentar outras três representações por quebra de decoro parlamentar que tramitam no Conselho de Ética. Se for absolvido no primeiro julgamento por uma margem confortável de votos, dará uma demonstração de força capaz de paralisar os outros processos. Se a margem for pequena, incentivará a oposição a redobrar os ataques. Uma vitória apertada aumentará também a pressão de aliados para que ele se afaste da Presidência do Senado até o final das investigações.
Reservadamente, os aliados de Renan avaliam ter uma vantagem entre cinco e 10 votos hoje. A oposição acredita que a diferença não ultrapasse os três votos. A margem de erro das contas é grande porque muitos senadores escondem sua posição dos colegas e líderes. Há dúvidas sobre como votarão parlamentares de quase todos os partidos. As principais indefinições estão no PT e no DEM. Entre os petistas, quatro senadores ameaçam votar pela cassação, embora Renan seja um aliado do governo. No DEM, a avaliação é que cinco dos 17 parlamentares possam votar pela absolvição, contra a orientação da liderança partidária.
entenda o caso Calvário desde maio
Os problemas de Renan Calheiros começaram no dia 25 de maio, quando a revista Veja o acusou de receber ajuda financeira do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Segundo a revista, Gontijo pagaria despesas pessoais de Renan. Entre elas, uma pensão de R$ 12 mil para a jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha fora do casamento. Começava uma crise que já se arrasta há mais de 100 dias. A investigação do Conselho de Ética não encontrou provas de que dinheiro de Gontijo ou da empreiteira tenha entrado nas contas de Renan ou de Mônica. A pensão era paga em dinheiro vivo. Mas os problemas do senador só aumentaram. Para tentar comprovar que teria condições de honrar suas despesas, ele entregou ao Conselho suas declarações de renda, extratos bancários e documentos contábeis de suas fazendas. Submetidos a uma perícia da Polícia Federal, os papéis tornaram-se a maior dor de cabeça do presidente do Senado. A polícia encontrou indícios de fraude nas operações com gado e concluiu que a renda declarada por Renan não justifica o aumento de seu patrimônio. Com base na perícia da PF, os relatores do caso, Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES) propuseram a cassação de Renan. O parecer deles foi aprovado na semana passada e agora o caso vai a plenário. Se for absolvido, o presidente do Senado ainda terá de enfrentar outras três representações, por denúncias que surgiram durante a crise. (GK) |
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