O ex-agente do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) Francisco Ambrósio do Nascimento, acusado de envolvimento em escutas telefônicas ilegais, teve acesso a documentos sigilosos da investigação da Operação Satiagraha. O araponga, que se aposentou em 1998, trabalhou com a Polícia Federal de fevereiro até quando a ação foi desencadeada, em julho passado. Ambrósio foi contratado pelo delegado Protógenes Queiroz, comandante das investigações que resultaram na prisão do banqueiro Daniel Dantas, controlador do Opportunity. A PF tem informações de que outros espiões afastados do serviço público participaram das apurações como colaboradores eventuais.
Segundo fontes da PF e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ambrósio atuou na análise de dados sigilosos da operação desde fevereiro até a ação da PF. O araponga recebeu, segundo amigos próximos, R$ 1,8 mil mensais em dinheiro pelo trabalho. O espião foi contratado por Protógenes depois de ter conversado com um amigo da época em que o delegado fez a Escola Superior de Guerra (ESG). Esse amigo, um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB), aproximou Protógenes do espião e o acerto ocorreu
O ex-agente do SNI teria buscado, ao longo dos meses, encontrar conexões entre os investigados pela Chacal e os alvos da Satiagraha. Sem despertar a atenção, o araponga passava por dois momentos de identificação para entrar no “Máscara Negra”, o edifício-sede da PF. Na portaria, pedia autorização de funcionários do grupo de Protógenes e, no momento de entrar na Diretoria de Inteligência Policial (DIP), onde o delegado realizava suas investigações, se valia de um crachá de uma servidora.
Intervenção
De acordo com pessoas próximas a Ambrósio, o diretor afastado de Contra-Inteligência da Abin, Paulo Maurício Fortunato, tentou intervir no depoimento concedido pelo araponga na PF, no último sábado. O ex-agente foi procurado na última sexta-feira pelo diretor para que não passasse à PF informações que comprometessem a cúpula da agência. No sábado, o espião depôs aos delegados responsáveis pelo inquérito, Rômulo Berredo e William Morad, que apura quem realizou os grampos em autoridades dos Três Poderes.
Ambrósio admitiu à PF que participou da Satiagraha, mas negou que tenha feito grampos ilegais. Fontes da PF confirmaram que ele teve acesso a documentos sigilosos, o que é proibido por lei. Questionado ontem pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) na CPI dos Grampos, Paulo Maurício admitiu que, na última sexta-feira, procurou Ambrósio para lhe perguntar detalhes sobre a reportagem que iria citá-lo como o coordenador da operação da Abin. “A única intenção era esclarecer os fatos (que estariam na reportagem)”, respondeu Paulo Maurício, que antes tinha dito que “haviam 15 anos” não conversava com Ambrósio.
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