Marcelo Godoy, Rodrigo Pereira e Vannildo Mendes
O brasileiro preso com 1 tonelada de cocaína juntamente com dois surinameses, na sexta-feira, perdeu muito sangue e morreu lentamente na cela da custódia da Polícia Federal, antes de ser socorrido. O corpo de João Mendonça Alves, de 38 anos, estava quase sem sangue quando foi examinado no Instituto Médico-Legal de São Paulo. Um dia depois de anunciar que Alves se matara com uma faquinha de plástico, a PF mudou a versão e informou que na cela foi encontrada uma lâmina de barbear. A Procuradoria da República criou uma força-tarefa para apurar o caso, ao mesmo tempo em que a Polícia Civil abriu inquérito para investigar a morte.
O corpo apresentava cortes nos dois lados do pescoço. Nenhum seccionou artérias importantes. Em um dos lados, o corte era superficial, enquanto que no outro houve perfuração do músculo lateral do pescoço. Ele foi atendido somente após não responder ao agente que vistoriava os presos.
“Não podemos afirmar que houve suicídio ou homicídio, mas os cortes parecem com o que os psiquiatras chamam de lesão de hesitação, aquele corte feito por quem, na realidade, não quer se matar”, afirmou um legista ao Estado. Alves sangrou lentamente e de forma contínua em sua cela.
Os médicos aguardam os dados sobre o local do crime e os objetos sob suspeita de terem sido usados para provocar os cortes, a fim de determinar se são compatíveis com os ferimentos observados no corpo de Alves. Num primeiro exame, não havia outras lesões no corpo. Na tarde de ontem, a PF divulgou ter encontrado a lâmina na cela
O local foi examinado apenas pelos peritos da PF. Quando os agentes do Instituto de Criminalística de São Paulo foram examinar a custódia, a cela já havia sido lavada. “A perícia ficou prejudicada”, afirmou o delegado Renato Ferreira, titular do 7º DP, que apura o caso. Ele pretende chamar para depor os dois irmãos de Alves, que denunciaram o caso à Polícia Civil, e a médica do Hospital Sorocabana que o atendeu – levado pela PF ao hospital, o preso morreu 20 minutos depois de ser internado, no sábado. “Depois vamos ouvir quem estava de plantão e os outros presos.”
O Ministério Público Federal afirmou que quatro procuradores instauraram investigação para apurar o que houve na custódia da PF. O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que o caso será investigado “com profundidade”, mas adiantou que o resultado do laudo, a ser divulgado nos próximos dias, deve confirmar suicídio. “Pelas informações que temos, foi uma lamentável tentativa de suicídio”, disse o ministro, referindo-se equivocadamente à morte do preso que estava sob a tutela Federal.
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