Ana Marques* e
Evandro Éboli
BOA VISTA e BRASÍLIA. Depois de entrar em confronto com índios, a Polícia Federal prendeu ontem Paulo César Quartiero, o maior plantador de arroz da reserva indígena Raposa Serra do Sol,
O confronto aconteceu depois que moradores das vilas próximas e índios contrários à retirada dos arrozeiros queimaram uma ponte que dá acesso à reserva. Com paus, pedras e flechas, eles impediram a entrada dos agentes federais. Também invadiram a escola da vila, onde seria instalada a base de trabalho da Polícia Federal. O filho de Quartiero, Renato Quartiero, foi ferido pela explosão de uma bomba caseira, confeccionada pelos próprios manifestantes.
Prisão antecipa operação de desocupação de reserva
Desde o início da madrugada de ontem, o clima era tenso. Sobre a ponte de acesso à vila, dezenas de pessoas contrárias à homologação da reserva fizeram piquetes com tratores e caminhões pertencentes aos produtores de arroz. A resistência à passagem dos policiais foi liderada por Quartiero, preso sob a acusação de dano ao patrimônio público e desacato a autoridade. Ele foi levado à sede da superintendência da PF
Segundo José Negreiros, assessor de imprensa da PF em Roraima, Quartiero foi indiciado por desacato a autoridade, desobediência, incitação à desordem e bloqueio de via Federal – crimes afiançáveis, o que permitiria a sua liberação, após o interrogatório. O advogado dele, Valdemar Albrecht, negou as acusações e disse ser ilegal a operação da PF, batizada de Upatakon.
– Não há ordem judicial, e ações contra a homologação estão tramitando no Supremo Tribunal Federal – disse.
A prisão de Quartiero antecipou o início da operação, prevista para começar dia
Fazendeiro responderá por crime ambiental
A ação é coordenada pela Casa Civil. Participam a Polícia Federal, Incra, Ibama e Funai. Quartiero é o grande alvo. Para retirá-lo da terra, os coordenadores da operação decidiram que vão enquadrá-lo por crime ambiental. Nas suas fazendas, ele desmatou terra ilegalmente, desviou curso de rio e destruiu mata ciliar.
– Será mais fácil pegá-lo por crime ambiental do que por invasão de terra indígena, que pode ser contestado na Justiça – disse ontem um integrantes do grupo que coordena a operação e prefere não ser identificado.
A Operação Upatakon deverá contar com um contingente de 250 agentes da Polícia Federal e cerca de cem policiais da Força Nacional de Segurança. Desta vez, a PF não pediu o apoio do Exército. Ano passado, estava prevista uma operação semelhante. Os militares foram chamados a participar, mas se recusaram, por defenderem a presença dos rizicultores naquela região de fronteira. O documento com detalhes da operação enviado pela PF ao Ministério da Defesa vazou e foi entregue a parlamentares de Roraima contrários à demarcação.
(*) Especial para O GLOBO
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