O que o Brasil tem a aprender com um dos homens por trás da redução de 78% nos homicídios
Americano, tem 59 anos. É sócio e conferencista da empresa The Bratton Group, consultoria internacional especializada em segurança pública com sede
O QUE FEZ
Foi o braço direito de William J. Bratton, chefe do Departamento de Polícia de Nova York, no período em que a cidade reduziu a criminalidade e tornou-se referência mundial.
No ANO PASSADO, HOUVE 494 HOMICÍDIOS
No Estado do Rio de Janeiro, foram 2.030 nos quatro primeiros meses de 2008. Nova York já teve o quádruplo de homicídios que hoje. Para deter a criminalidade, foi necessário reformar a polícia e reestruturar a segurança pública. Houve ênfase na gestão e nos resultados. Todo tipo de delito, inclusive dentro da força policial, passou a ser investigado e punido. Um dos cérebros por trás dessa reforma é William Andrews, o braço direito do então chefe do Departamento de Polícia de Nova York, Wiffiam Bratton. Nesta entrevista, ele afirma que as soluções para conter a violência “não são mágicas, nem únicas” e dá exemplos do que pode ser feito para melhorar a segurança nas cidades brasileiras.
ÉPOCA – O segredo para uma polícia eficiente está na gestão?
William Andrews – O principal motivo para o recuo da criminalidade
ÉPOCA – A polícia de Nova York passou a pensar e agir como uma empresa?
Andrews- Em parte, sim. William Bratton (chefe do Departamento de Polícia de Nova York de
ÉPOCA – Estudiosos afirmam que é difícil controlar a policia em qualquer parte do mundo. Por quê?
Andrews – Porque quem está no topo pode criar as regras que quiser. Mas sempre vai ter de confiar e depender dos policiais que estão na linha de frente. Esses policiais, que estão nas ruas lidando com a população, são quem traz os resultados que os chefes querem. Por isso, a descentralização é importante. Apesar de usar uniforme e de obedecer à hierarquia, a polícia não é uma organização militar como o Exército. Seu papel é muito mais complexo. A polícia não está numa guerra. Lida com criminosos, mas também com pessoas inocentes o tempo todo.
ÉPOCA – Em que medida a “tolerância zero” contribuiu para a queda da criminalidade
Andrews – O que muita gente chama de tolerância zero nós chamamos de reforço da qualidade de vida. Criamos uma atmosfera em que as pessoas ficaram com receio de praticar ilegalidades, por menor que elas fossem, porque sabiam que a polícia cumpriria a lei. Quando a polícia começa a atacar pequenos problemas antes ignorados, muda as características e melhora a qualidade de vida de toda a comunidade. O efeito social disso é extremamente poderoso. Os honestos aparecem mais e os desonestos fogem.
ÉPOCA – Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo podem seguir esse exemplo?
Andrews – É um grande desafio adotar essa postura em locais onde as pessoas vivem em áreas degradadas e às margens da lei, como
ÉPOCA – Como minar o poder de traficantes que dominam os morros do Rio?
Andrews – A polícia não poder entrar em áreas da cidade é um problema seriíssimo. É fundamental que o Estado invista
ÉPOCA – Como lidar com as milícias instaladas em favelas cariocas?
Andrews – É um problema difícil de atacar, porque parte da população apóia as milícias. Os pobres que vivem em áreas degradadas normalmente confiam menos no Estado, que lhes nega serviços públicos fundamentais, como educação e saúde. A cultura do crime só é quebrada quando a sociedade se torna uma aliada da polícia. Mas essa parceria não é construída em dias ou semanas. Pode levar anos. Não há nada mais eficaz para controlar uma comunidade que ela própria. Por isso, é fundamental que a polícia esteja próxima da população.
ÉPOCA – Como medir a eficiência policial?
Andrews – É difícil medir, porque se trata de um trabalho discricionário. Pode haver um policial que escolhe apenas prender. E não investigar. Não fazer mais nada. Claro que é importante prender. Mas também pode haver outro policial que prende menos, mas conversa com os envolvidos num determinado problema e evita confusões futuras mais graves. Apesar de o ganho social disso ser imenso, ninguém toma conhecimento. Por isso, medir apenas as taxas de aprisionamento pode não ser o critério mais justo. A verdadeira resposta sobre a eficiência policial vem da própria comunidade, que se sente mais segura quando as taxas de criminalidade caem.
ÉPOCA – Criminosos presos devem ajudar nas investigações da polícia?
Andrews – A colaboração de detentos é fundamental.
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