Em manifesto, sindicato da categoria pedirá independência financeira e administrativa com relação ao Ministério da Justiça. Lutam também por mais liberdade para a escolha do diretor-geral da corporação
Alessandra Pereira
Da equipe do Correio
São Paulo — Diante da crise institucional gerada pelos desdobramentos da Operação Satiagraha, delegados da Polícia Federal
A decisão foi tomada, em nome da categoria, por cerca de 60 delegados que participaram ontem, na sede da Superintendência da PF
Como nenhum dos três compareceu — apenas Pellegrini desculpou-se e apresentou justificativa para a ausência — a categoria decidiu, por unanimidade, não tomar providências específicas em defesa de algum delegado que tenha atuado no caso. “Nos colocamos à disposição, mas nenhum dos três veio participar. Então, sairemos em defesa apenas da instituição, da imagem da corporação, dos direitos e das prerrogativas dos delegados de um modo geral”, explicou o delegado Amaury Portugal, presidente do Sindicato dos Delegados da PF
Segundo ele, é por meio do manifesto que a entidade irá expressar suas principais preocupações, agravadas a partir da Satiagraha. Na avaliação da categoria, o Departamento de Polícia Federal deve ganhar rubrica própria no Orçamento da União, de tal maneira que os próprios policiais decidam a melhor forma de aplicação de recursos, sem depender das liberações e das outras necessidades do Ministério da Justiça.
Já o delegado-geral, atualmente um cargo de confiança, deve, na interpretação do sindicato, ser escolhido pelo ministro e pelo presidente da República a partir de lista tríplice cujos candidatos sejam definidos internamente, pelo conjunto de delegados, num processo semelhante ao feito no Poder Judiciário. “É a melhor forma de garantir verdadeira independência para o trabalho da instituição e evitar ingerências externas de toda sorte”, ponderou Portugal.
O sindicato representa os cerca de 500 delegados federais lotados no estado. Hoje, será a vez de os agentes federais se reunirem para ouvir relatos dos colegas que participaram da Satiagraha e, depois, se posicionar em respeito.
INQUÉRITO “TÉCNICO”
O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que a crise provocada dentro da Polícia Federal pelo afastamento do delegado Protógenes Queiroz da Operação Satiagraha foi superada pela instituição. Tarso afirmou que o inquérito da operação será técnico, sem o “sentido publicitário’ registrado em alguns momentos das investigações. “O que houve foi uma instabilidade momentânea que já está resolvida. Esse é um assunto para nós resolvido. O inquérito vai ser mais técnico, profundo, sem sentido publicitário que teve alguns lances que vocês sabem que temos uma crítica muito dura com relação a isso”, afirmou.
Senado nega pedido
Leandro Colon
Da equipe do Correio
O Senado vai enterrar de vez o pedido de impeachment do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O advogado-geral da Casa, Alberto Cascais, decidiu recomendar o arquivamento da representação feita contra Mendes na última sexta-feira por integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Distrito Federal. Ele alegou falta de embasamento jurídico no pedido.
O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), recebeu o parecer e acatou a recomendação. O peemedebista pretende referendá-la no começo de agosto, quando a Mesa Diretora se reunirá após o fim do recesso parlamentar.
Os sindicalistas queriam o afastamento do magistrado do comando do STF por causa dos dois habeas corpus concedidos por ele ao banqueiro Daniel Dantas, que chegou a ser preso temporariamente e preventivamente há duas semanas na Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Para a CUT-DF, Mendes teria cometido crime de responsabilidade ao acelerar a libertação do banqueiro, julgando rapidamente os recursos de sua defesa. A representação com o pedido de impeachment foi entregue após uma manifestação em frente ao Congresso.
A análise do departamento jurídico do Senado não durou mais de três dias. A conclusão foi a de que o documento da CUT é vago, sem consistência. Na segunda-feira, Alberto Cascais já remeteu sua decisão à secretaria-geral , que enviou o parecer para o presidente do Senado.
MP investiga vazamento e obstrução
O procurador da República Roberto Dassié Diana já deu abertura ao procedimento investigatório criminal e de controle externo para apurar se houve mesmo vazamento de informação e obstrução à Operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal há duas semanas. O procurador enviou ontem à Superintendência da PF,
Os procedimentos do Ministério Público Federal são resultado da reclamação formal formulada na semana passada pelo delegado Protógenes Queiroz. Na reclamação, o delegado disse que houve obstrução material e física para apurar o caso que culminou no indiciamento de 10 executivos do grupo Opportunity, entre eles, o sócio-fundador da instituição, Daniel Dantas.
A direção da PF, com autorização do Ministério da Justiça, divulgou um trecho de alguns minutos da gravação, porém, o delegado Protógenes Queiroz queixou-se, dizendo que o material divulgado não condizia com o que foi tratado na reunião, pois estaria indicando que foi ele quem pediu para deixar o caso. “Recebi a cópia do CD e acredito que até o fim dessa semana terei condições de ouvi-la na íntegra”, comentou o procurador.
Já com relação à abertura do procedimento investigatório criminal sobre suspeita de vazamento de informações, o procurador disse que está relacionado a detalhes da Operação Satiagraha que teriam sido publicados pela imprensa, antes da operação se deflagrada pela PF. De acordo com o delegado Protógenes Queiroz, uma jornalista teve acesso às informações que geraram a reportagem publicada em 26 de abril, na qual relata que Daniel Dantas estava sendo investigado pelo PF.
Segundo o procurador, o delegado Protógenes Queiroz, em sua representação de 16 páginas, disse que tal vazamento prejudicou o andamento das apurações. “Tanto sobre o vazamento de informações como em relação à suspeita de obstrução para os trabalhos dessa operação, o delegado Protógenes não cita nominalmente a participação de algum servidor da PF”, disse o procurador. Ele acredita que a direção-geral da Polícia Federal deve responder com rapidez os questionamentos que enviou à cúpula da instituição.
Roberto Dassié Diana quer saber quem eventualmente teria dificultado o acesso de reforço policial e material para a operação, como manifestou o delegado Protógenes.