Alessandra Pereira
Da equipe do Correio
Segundo procurador, Hugo Chicaroni confirmou ter recebido R$ 865 mil do grupo Opportunity para oferecer a um delegado da Polícia Federal a título de propina. Suspeitos foram ouvidos pela Justiça
São Paulo – Em vez de terem oferecido propina para que o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, fosse excluído das investigações da Polícia Federal na Operação Satiagraha, teria havido pedido de dinheiro por parte do delegado Protógenes Queiroz, originalmente responsável pelo inquérito. A versão foi apresentada ontem pelos advogados do professor universitário Hugo Sérgio Chicaroni, que foi interrogado pela Justiça Federal durante mais de três horas na ação penal em que é réu, ao lado de Dantas e de seu assessor Humberto Braz, sob acusação de corrupção ativa.
Antes de Chicaroni, o próprio banqueiro foi interrogado durante uma hora, mas, sob orientação da defesa, não respondeu às perguntas do juiz titular da 6ª Vara Criminal Federal, Fausto Martin de Sanctis. O juiz também chamou novamente Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom Participações, que havia prestado depoimento na quarta-feira. Braz e Chicaroni chegaram a ficar juntos na sala de audiências por cerca de cinco minutos, numa espécie de acareação, de acordo com informações não confirmadas de forma oficial.
Segundo a advogada Maria Fernanda Carbonelli, valendo-se de uma amizade de sete anos com Chicaroni, o delegado Protógenes teria preparado o flagrante, com auxílio do também delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, para incriminar o dono do Opportunity: “O objetivo de Protógenes era deflagrar uma ação contra Daniel Dantas”, afirmou Maria Fernanda, antes de acrescentar que o delegado e seu cliente eram “amigos íntimos” e que Chicaroni sentiu-se traído. “Havia confiança mútua. Eles tinham uma relação de amenidades, almoçavam, jantavam juntos e conversavam sobre coisas da vida.”
A advogada declarou que esses foram os detalhes relatados por Chicaroni durante seu depoimento ao juiz de Sanctis, que decretou sigilo para o conteúdo das audiências e, portanto, dos interrogatórios. Com esse argumento, Maria Fernanda recusou-se a dar explicações sobre o dinheiro usado na tentativa de suborno. Ela negou que Chicaroni tivesse relações com o Opportunity e disse que seu cliente não prestava serviços como profissional terceirizado para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Silêncio
O procurador da República Rodrigo De Grandis, autor da denúncia do Ministério Público Federal
Nélio Machado, advogado de Dantas, avaliou positivamente os depoimentos de Braz e de Chicaroni. “O meu cliente foi inocentado em razão do que se pôde ouvir. E o depoimento de Chicaroni é altamente favorável à minha defesa”. Machado disse que a verdade “virá à tona” e “vai evidenciar que todas essas histórias são muito diferentes da narrativa oficial policial”. Dantas prestará novo depoimento à Justiça no dia 14.
Dantas, Chicaroni e Braz, os dois últimos permanecem presos, são acusados de tentar subornar com US$ 1 milhão o delegado Victor Hugo ao longo da Satiagraha, com o propósito de deixar o banqueiro e sua família de fora das investigações em torno de crimes contra o sistema financeiro. A PF gravou dois encontros no qual afirma ter ficado provada a suposta tentativa de oferecimento de propina. As gravações e a confissão de Chicaroni à PF foram a base da denúncia que originou a ação penal
A PF informou ontem que não se manifestaria sobre o caso e que os servidores que trabalharam no inquérito prestarão os devidos esclarecimentos à Justiça, caso do delegado Victor Hugo Ferreira, escalado para servir de isca durante a investigação de tentativa de suborno.
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