CPI dos grampos
A base aliada na CPI dos Grampos na Câmara decidiu barrar a investigação de quaisquer desdobramentos da Operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal mês passado. Nas últimas semanas, a CPI ouviu o delegado Protógenes Queiroz, o juiz Fausto de Sanctis, o banqueiro Daniel Dantas e o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, a fim de apurar as suspeitas de que ocorreram escutas ilegais na operação. Com essa frente aberta, a comissão alcançou visibilidade que não teve desde sua criação, há um ano. Daqui para a frente, porém, o presidente e o relator da comissão, deputados Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) e Nelson Pellegrino (PT-BA), querem voltar os trabalhos para uma linha de investigação chamada técnica.
Com isso, os dois descartam terminantemente a convocação do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e do advogado e ex-deputado Federal do PT Luiz Eduardo Greenhalgh. Nas investigações da operação, Greenhalgh foi flagrado em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça obtendo informações de Carvalho sobre uma investigação feita por um araponga da Abin contra Humberto Braz, aliado do banqueiro Daniel Dantas.
“A CPI não está investigando a Operação Satiagraha”, afirmou o presidente da comissão. “Queríamos apenas saber se houve escutas ilegais nessa operação”, sustenta Itagiba. Para ele, o depoimento anteontem de Paulo Lacerda, de que a agência não realizou grampos ilegais durante a operação policial, coloca fim às “especulações” que apareceram. “Não tem razão de continuar (nessa linha)”, avalia.
Na última terça-feira, uma reunião de líderes da Câmara selou a decisão de barrar o aprofundamento dessas investigações. O líder do DEM na Casa, José Carlos Aleluia (BA), queixou-se da tentativa do também baiano Colbert Martins (PMDB-BA) de tentar investigar um esquema de grampos ilegais atribuído a Antonio Carlos Magalhães, cacique político baiano morto no ano passado. Preocupado com a chamada politização da CPI, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), chamou Itagiba para se inteirar da temperatura da comissão. E viu que, além do caso ACM, passou-se a instalar uma guerra entre PT e PSDB como desdobramento da Operação Satiagraha. “Esse jogo não faz bem para a comissão”, pondera Itagiba.
O presidente da CPI diz ter a receita para “despolitizar” a comissão. “Mesmo que coloquem em discussão (os requerimentos de convocação de Greenhalgh e Carvalho), a oposição não tem voto”, alfineta. Dos 23 integrantes da comissão, pelo menos 15 votos são certos para o governo. A comissão, segundo ele, deve focar na busca do aperfeiçoamento da legislação dos grampos legais e ilegais.
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