Avaliação do Planalto é de que escuta ilegal no STF seria tentativa de atingir a agência e o próprio presidente Lula
Paulo Lacerda, diretor-geral da agência, disse que não acredita no envolvimento de servidores da Abin, mas não descarta a possibilidade
O governo trabalha com a hipótese de envolvimento de funcionários da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e da Polícia Federal na escuta ilegal do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes. No entanto, por ora, descarta o envolvimento do diretor-geral da agência, Paulo Lacerda, e da cúpula da PF com tal escuta ilegal.
Nas avaliações iniciais do Palácio do Planalto sobre o caso, três hipóteses principais são cogitadas. Na primeira delas, as escutas foram feitas -e vazadas- por servidores da Abin que resistem a Lacerda.
Na segunda, seriam fruto de disputa entre os grupos pró e anti-Lacerda, ex-diretor-geral da PF. O grupo de Lacerda tem entre os integrantes o delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha.
A terceira hipótese avalia a participação da iniciativa privada. Não se descarta a possibilidade da ação de alguém interessado
Recentemente, Lacerda e o presidente do STF estiveram envolvidos em aspectos polêmicos da Satiagraha -investigação da PF sobre um suposto esquema de corrupção comandado pelo banqueiro Daniel Dantas. O diálogo telefônico de pouco mais de dois minutos entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi gravado no fim da tarde de 15 de julho, uma semana depois da deflagração da Satiagraha.
“Não se pode descartar as disputas internas [na Abin e na PF]”, disse o ministro Nelson Jobim (Defesa), ao ser questionado sobre a possibilidade de armação uma vez que a Abin não tem prerrogativa legal de interceptar conversas.
Lacerda disse a assessores que não acredita no envolvimento de servidores da Abin, mas não descarta a possibilidade. Afirmou que a agência não tem equipamentos nem funcionários para monitorar e elaborar relatórios sobre as conversas de tantas autoridades.
Todas as hipóteses para os grampos são consideradas graves pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E o vazamento desse diálogo, acredita o governo, teria o objetivo de atingir Lacerda e o próprio presidente.
Segundo um ministro, Lula não recebe relatórios da Abin sobre escutas, informação publicada pela revista “Veja”. Por lei, a agência é proibida de fazer grampos. Se os fizesse e apresentasse relatórios a Lula, o presidente cometeria crime de responsabilidade ao recebê-los. Por isso, avalia o auxiliar de Lula, um dos objetivos do vazamento seria atingir o Planalto.
A revista “Veja” relatou que a Abin grampearia ministros, ex-ministros e auxiliares de Lula.
Relatórios dessas conversas, segundo a revista, eram enviados para o próprio presidente. Por serem ilegais, as gravações seriam destruídas.
Em conversas reservadas, auxiliares de Lula dizem que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu sempre se considerou perseguido por Abin e PF. Mas não acreditam que Lacerda e a cúpula da PF tenham grampeado Dirceu ilegalmente.
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