Operação que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas pode ser anulada se for comprovada a participação de araponga nas investigações
O surgimento de um novo personagem na intrincada crise dos grampos, que teve como alvo os telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e do senador Demostenes Torres (DEM-GO), pode afetar as investigações que originaram a Operação Satiagraha, desencadeada em julho pela Polícia Federal. Dentro da PF há um grande temor de que, se ficar comprovada a participação do ex-agente da extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) Francisco Ambrósio do Nascimento na investigação, que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, controlador do Opportunity, o inquérito pode ser até anulado pela Justiça.
O depoimento de Ambrósio estava sendo aguardado com ansiedade pelos investigadores, que vêem nele uma nova linha de apuração do caso dos grampos, que causou uma crise entre os poderes e auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até o final da tarde, a PF não tinha nenhuma confirmação sobre o interrogatório do ex-funcionário da SAE.
Segundo a revista IstoÉ, Ambrósio teria participado da Operação Satiagraha na condição de colaborador. Ele seria o coordenador de um grupo de arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que atuou nas investigações feitas pelo delegado Protógenes Queiroz. O diretor-geral da instituição, Paulo Lacerda, afastado até o fim das investigações, teria atendido um pedido de Queiroz, de quem foi chefe quando comandou a PF até setembro do ano passado.
A própria Polícia Federal confirma que um agente da agência trabalhou dentro da Diretoria de Inteligência Policial (DIP). Ele seria o contato entre os investigadores e outros espiões. “O depoimento de Ambrósio pode ser decisivo ou abrir novas frentes na apuração dos grampos”, admite um policial federal que não participa diretamente do caso, que tem à frente os delegados Rômulo Berredo e William Morad. A assessoria da PF afirma que o inquérito corre em sigilo e não seriam dadas informações sobre seu andamento.
Ligação
A Agência Brasileira de Inteligência informou que Ambrósio não é funcionário da instituição. “Ex-servidor da Aeronáutica, Nascimento esteve no órgão que antecedeu a Abin (a SAE), do qual se aposentou em 1998, portanto antes da criação da agência”, diz a nota da corporação, acrescentando que desde que se aposentou, o araponga não participou de qualquer atividade no local. Por Ambrósio não ter nenhuma ligação com as entidades governamentais que poderiam participar das investigações da PF, a Operação Satiagraha corre risco de parar por decisão judicial.
Ambrósio deverá ser convocado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Grampos, assim como o agente da Abin Márcio Seltz, que teria atuado dentro da PF. Com isso, cresceu ainda mais o temor entre os investigadores de que o resultado da Satiagraha seja questionado na Justiça.
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