Mesmo sem que a crise dos grampos tenha resvalado no presidente Lula, episódio abalou importantes nomes da Esplanada. Entre os órgãos, a Abin e a Polícia Federal acabaram no prejuízo com o escândalo
Na contabilidade sobre perdas e ganhos com o episódio dos grampos, o governo leva uma grande desvantagem. O placar assinala poucos ganhadores, mas um rol imenso de prejuízos para diversas instituições e homens públicos. O Palácio do Planalto conseguiu tirar, a tempo, o problema do colo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Do lado oposto, a divulgação de escutas telefônicas clandestinas de conversas entre autoridades do Legislativo e Judiciário ressuscitaram sonolentas CPIs ou comissões permanentes que raramente se reuniam. Além disso, pode anular o inquérito da Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, controlador do Opportunity.
“A Abin virou a Geni da música do Chico Buarque”, definiu um dirigente da Agência Brasileira de Inteligência. A versão de que partiram da Abin os grampos clandestinos feitos em diálogos entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demostenes Torres (DEM-GO) está perdurando até agora. Na avalanche das denúncias entrou o delegado Paulo Lacerda, diretor da corporação, afastado do órgão.
Mesmo depois do aparecimento do araponga Francisco Ambrósio do Nascimento, que está aposentado desde 1998 – um ano antes da criação da agência -, a instituição continua na berlinda. A crise atingiu também o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix.
Do céu para o inferno. É como pode ser definida a situação atual do delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha. Elogiado por ter prendido o banqueiro Daniel Dantas, sua sorte mudou com a revelação que contou com a ajuda de arapongas particulares em sua investigação. Até então, nem seus superiores sabiam disso. Mais ainda: o diretor da Policia Federal, Luiz Fernando Corrêa, não foi avisado de que 52 agentes da Abin participavam da ação. O detalhe custou caro não apenas ao delegado, que pediu quatro meses de licença, mas também à instituição em que trabalha. “A Polícia Federal é a bola da vez”, observa um dirigente da PF.
Investigações
A indignação mostrada pelo ministro da Defesa Nelson Jobim na reunião de Lula com os ministros do STF, há duas semanas, pode lhe prejudicar no futuro. Ele foi taxativo ao dizer que a Abin tinha equipamentos para fazer grampos, o que a agência negou. No dia seguinte, o ministro reafirmou sua tese e comprou uma briga direta com o general Jorge Félix. E caberá à PF demonstrar, por meio de uma perícia, quem tem razão. Um parecer preliminar do Exército revelou que é praticamente impossível fazer escutas com os aparelhos de varredura da Abin.
O episódio beneficiou alguns parlamentares em um momento que nada acontecia nas comissões de investigações, como a CPI dos Grampos na Câmara, e de fiscalização das atividades de inteligência, que funciona no Senado. Durante pelo menos uma semana os holofotes se voltaram para as duas Casas, esvaziadas pelo período eleitoral. Além do Legislativo, o Judiciário se reforçou com a tomada de posição do presidente de Gilmar Mendes. Os ministros da Corte esqueceram alguns problemas entre si e se uniram contra a PF e Abin. No balanço final de perdas e ganhos, o banqueiro Daniel Dantas pode ser beneficiado também, já que as informações vazadas podem anular o inquérito da Operação Satiagraha, em que ele é citado como principal envolvido.
Comments are closed.