Tarso Genro diz que bastava o Ministério Público pedir o afastamento do delegado suspeito, o que evitaria interferência nas investigações
O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que achou desnecessária a prisão do diretor-executivo da Polícia Federal, Romero Menezes, acusado de fazer advocacia administrativa e tráfico de influência para o irmão José Gomes Menezes Júnior. Segundo o ministro, o delegado não deverá voltar a ocupar o cargo, mesmo sendo inocentado das acusações, já que sua imagem sofreu um forte desgaste. Tarso conversou com Menezes ainda na noite de terça-feira, depois de o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região ter expedido um habeas corpus para o delegado.
“Acho que o pedido de prisão foi desnecessário. Sendo ele um dirigente da Polícia Federal, bastava o juiz pedir seu afastamento para não influenciar na coleta de provas”, afirmou o ministro, ressaltando que era sua opinião pessoal, mas que foi levada ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Os dois conversaram sobre o assunto em um encontro social, na terça-feira. Souza disse que iria estudar o caso e sugeriu a Tarso que, caso quisesse, poderia entrar com uma representação no Ministério Público, o que o ministro recusou, alegando que apesar de não ter sido necessária a prisão, não houve ilegalidades.
Tarso Genro afirmou que gostaria que Romero Menezes provasse sua inocência, mas se for considerado culpado terá que pagar. O ministro ressaltou que o episódio não afetará a imagem da Polícia Federal, nem de seu diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa. “Não há nenhuma instituição que não tenha contaminação. Se houve contaminação, a PF demonstrou que não vacila e vai tomar providências contra o número quatro, três, dois, um e o zero, que sou eu”, ressaltou Tarso.
Por volta das 22h30 de terça-feira, Tarso Genro ligou para Corrêa e falou com Romero Menezes, que estava ao lado do diretor. Ao delegado, o ministro disse que, como todo cidadão, ele teria o direito de se defender e o direito da dúvida (de que cometera ou não irregularidades). “Ministro, pode ficar tranqüilo que sou inocente e não cometi nenhuma ilegalidade”, respondeu Menezes. À tarde, Tarso havia conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a reunião de coordenação política, no Palácio do Planalto. Lula recomendou cautela e uma investigação séria.
Desde a semana passada a cúpula da PF sabia das acusações contra Romero Menezes. Luiz Fernando Corrêa havia sido avisado cinco dias antes da prisão de seu substituto imediato, enquanto que Tarso foi informado pouco depois pelo subordinado.
Delegado interferiu em favor do irmão
O diretor-executivo da Polícia Federal, Romero Menezes, confirmou em seu depoimento que interferiu em favor do irmão em um processo de uma escola de formação de vigilantes. O delegado afirmou não cometeu nenhuma ilegalidade, o que poderia ser comprovado por colegas seus com quem manteve contatos. Segundo ele, o irmão, José Gomes de Menezes Júnior, que também foi preso, tentava havia um mês um parecer da Superintendência da PF no Amapá, sendo que o trâmite normal era de uma semana.
Romero Menezes foi libertado na noite de terça-feira por meio de um habeas corpus, 12 horas depois de preso. Abatido, ele esteve ontem na sede da PF e reclamou a amigos sobre a atuação dos investigadores que pediram sua prisão. “Sou obrigado a concordar com o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, de que há delegados mal informados e procuradores precipitados”, afirmou. O pedido de prisão do delegado partiu do procurador da República em Macapá, Douglas Santos Araújo.
Licitações
O delegado respondeu a diversos questionamentos em seu depoimento, inclusive sobre o vazamento de informações da Operação Toque de Midas, realizada em julho passado, com a meta de investigar fraudes em licitações de concessão de ferrovias no Amapá. Ele explicou que desaconselhara os delegados que atuavam no caso a desencadear a ação naquele momento, já que a investigação ainda estava inconsistente. Um dos alvos da PF era o empresário Eike Batista, dono da mineradora MMX, que atua no Amapá, e cuja prisão seria pedida pelos delegados e procuradores que atuavam no caso.
No depoimento, Romero Menezes disse que o vazamento poderia ter partido de uma conversa tida entre um agente federal de Macapá com alunos de uma faculdade onde é professor. O caso teria chegado a um dos diretores da MMX, que logo depois acionou a área jurídica da empresa. “Uma operação, naquele momento, era muito difícil. Era necessário reforçar as provas”, disse a amigos o diretor-executivo da PF, que está afastado de suas funções até o encerramento do inquérito.
Romero Menezes foi ouvido durante quatro horas pelo delegado Gesival Gomes, da corregedoria-geral. Ele disse que José Menezes Júnior reclamou de um documento que demorava a ser emitido pela Superintendência da PF no Amapá. “Era uma pessoa reclamando de um documento que levava uma semana para ser entregue e estava parado havia um mês”, disse. No depoimento, Romero Menezes afirmou que chegou a ligar para o titular da PF no estado, Anderson Rui Fontel, com quem teve uma discussão. Os dois, segundo Menezes afirmou na corregedoria, já haviam tido atritos anteriores. “Era meu irmão, mas era um cidadão como qualquer outro”, disse o diretor-executivo.
Menezes afirmou que deverá voltar ao cargo depois de encerrado o inquérito, mas irá se aposentar
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