Ao ser interrogado pelo juiz De Sanctis, no dia 22, banqueiro falou em trama secreta para assassinato, infiltração policial e retaliações
Conspiração, trama secreta para assassinato, infiltração policial, retaliações, pressões empresariais, espionagem, ameaças e corrupção de agentes públicos são histórias que pontuam o relato do banqueiro Daniel Valente Dantas à Justiça Federal. Interrogado na tarde de 22 de outubro, em sessão de 5 horas, o controlador do Opportunity negou corrupção ativa, crime que a Polícia Federal e a Procuradoria da República lhe imputam – com R$ 1,18 milhão ele teria tentado subornar o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, da PF, em troca do arquivamento de inquérito sobre as atividades do grupo que dirige.
Hugo Chicaroni, lobista, e Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom, são réus no processo. Os dois teriam agido a mando de Dantas. A eles, afirma a PF, coube a missão de assediar o policial. Alvo maior da Satiagraha, investigação sobre suposto esquema de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes fiscais, o banqueiro rechaça com veemência a acusação. Afirma ter conhecido Chicaroni no dia da primeira sessão judicial, em agosto, e que apenas “mantém bom relacionamento profissional” com Braz.
Dantas havia recebido orientação expressa da defesa para se calar na audiência, mas decidiu, por conta própria, responder às perguntas do juiz Fausto Martin De Sanctis, que preside a ação penal. Disse que, em dezembro de 2007, “escutou que existia operação sendo articulada contra o interrogando (Dantas) pelo dr. Paulo Lacerda”.
Paulo Lacerda foi diretor-geral da PF no primeiro governo Lula e até 2007, quando assumiu a chefia da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – cargo que perdeu no auge da Satiagraha. O banqueiro disse ter ouvido que Lacerda “iria pôr um par de algemas” nele. “O interrogando acredita ser vítima de conspiração, termo mencionado por um jornalista e por Daniel Lorenz de Azevedo, diretor de Inteligência da PF”, registra o depoimento. “Acredita que há dinheiro privado nesta operação, corrompendo agentes públicos.” Sobre Protógenes Queiroz, delegado que criou Satiagraha e foi afastado quando acusou superiores de boicote à investigação, o controlador do Opportunity declarou: “Esta autoridade policial possui intenção deliberada em me prejudicar.”
ASSASSINATO
O banqueiro destaca que, uma semana depois de ter sido solto, Braz lhe telefonou e pediu “encontro com urgência”. Era um fim de semana. Os dois se reuniram à tarde. Braz teria dito que estava na mira de um plano de assassinato e que sobre o banqueiro recairiam suspeitas. “Ele (Braz) dizia possuir três fontes confiáveis e recusou-se a revelar seus nomes, com exceção apenas de que uma delas era um segurança da Brasil Telecom”, depôs. Dantas diz que o ex-presidente da BrT disse-lhe que “tudo não passou de uma montagem e que nada havia pago, mas ele não chegou a dizer quem teria feito a montagem”.
O banqueiro falou do caso Kroll, história de espionagem no submundo das teles da qual ele seria protagonista. “Tomei conhecimento de fraude montada que gerou o caso Kroll, do qual sou réu. Tais informações são fruto de uma delação premiada na Itália, por pessoas que trabalharam na Telecom Itália. Fiz representações ao procurador-geral da República que não geraram conseqüências.”
CARTA
“Tomou conhecimento em 2004, em carta encaminhada por Mauro Salles, consultor da Brasil Telecom e da Opportunity Zain, que havia posição contrária aos interesses do interrogando por parte de Gushiken e dos fundos Previ”, registra o depoimento. “Ainda lhe foi dito que legalidade não seria freio para quem está no poder e que eles iriam fundo. Foi dito que, uma vez preso, a repercussão reverteria em seu desfavor nos tribunais.”
Afirma ter recebido notícias de “infiltração de policiais para serem corrompidos pelo Opportunity, com o conhecimento de juízes, para eventual pedido de prisão preventiva diante das provas devastadoras”.
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