O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que é preciso aguardar “a verdade dos fatos” antes de o governo tomar qualquer posição sobre o secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, suspeito de usar o cargo para beneficiar o contrabandista chinês Li Kwok Kwen, conhecido como Paulinho Li, apontado pela Polícia Federal como o chefe da máfia chinesa em São Paulo.
“O presidente da República não abre inquérito contra ninguém. Há uma suspeita contra um delegado. Esse delegado está sendo investigado dentro da própria corporação. Na hora em que a investigação chegar a uma coisa concreta (…), vamos ver qual é a verdade dos fatos. Se for verdadeiro, certamente ele terá que ser punido como qualquer brasileiro tem que ser punido quando comete um ato ilícito”, afirmou Lula, em entrevista em São Bernardo do Campo (SP), após o lançamento da campanha nacional de vacinação do idoso contra a gripe comum.
Na última quarta, O Estado de S. Paulo publicou reportagem em que denuncia a existência de e-mails e interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, que mostrariam uma relação estreita entre o secretário e Paulinho Li, processado por contrabando e descaminho e atualmente preso, aguardando julgamento. Tuma confirma ser amigo do chinês, mas nega que tenha favorecido Li.
As denúncias apontam que o secretário teria feito encomendas para Paulinho Li e dado tratamento preferencial a processos de anistia de estrangeiros agenciados pelo chinês. A PF, no entanto, informou que o inquérito em que Tuma foi mencionado está concluído, sem o indiciamento do secretário. Até então, o Ministério Público Federal também não encontrou indícios para denunciá-lo.
Dólares
A edição de ontem do Estado traz nova denúncia contra Tuma, que, desde 2007, coordena as ações de combate à lavagem de dinheiro no Brasil. A reportagem mostra trechos de interceptações telefônicas gravadas pela Polícia Federal, em que o secretário estaria tentando evitar um flagrante no Aeroporto Internacional de Guarulhos que resultou na detenção de sete pessoas e na apreensão de US$ 160 mil. O valor seria levado de forma irregular para Dubai, nos Emirados Árabes. A quantia estaria dentro da bagagem de parentes da deputada estadual Haifa Maida (PDT), que embarcariam em junho do ano passado.
De acordo com o jornal, as gravações, realizadas com autorização judicial, foram feitas no telefone do policial Paulo Guilherme Mello, que seria o braço direito de Tuma Júnior e o assessor destacado para resolver o problema. “Fala hoje lá com aquela autorid… com aquela pessoa lá e… pra ver se resolvia aquela parada”, disse secretário, segundo a reportagem. Em um dos telefonemas, Mello teria dito a Tuma que não foi possível evitar o flagrante. “É, paciência, né?”, lamenta o secretário.
O relatório da PF mostra que Tuma Júnior e Guilherme Mello foram acionados por um escritório de advocacia, precisamente por Francisco Teocharis Papaiordanou Júnior, amigo do secretário Nacional de Justiça e conselheiro do Corinthians, clube do qual Tuma foi diretor de futebol.
Novo indiciamento
» O empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi indiciado pela Polícia Federal por evasão de divisas. Essa não é a primeira vez em que ele é enquadrado. Em 2009, a PF o indiciou por formação de quadrilha, gestão irregular de instituição financeira, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. O indiciamento de ontem foi motivado pela descoberta de que Fernando teria enviado US$ 1 milhão não declarado para um banco na China.
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