Polícia Federal conclui laudos e as mães dos seis jovens preparam o enterro dos adolescentes, que deve acontecer nesta quinta-feira
Naira Trindade
As seis mães de Luziânia que tiveram os destinos entrelaçados pelo desaparecimento dos filhos já preparam o sepultamento coletivo para esta quinta-feira. Depois de um mês da retirada dos corpos da Fazenda Buracão, em Luziânia, a Polícia Federal finalmente concluiu os exames de DNA. Embora nenhuma autoridade policial confirme oficialmente a identificação das vítimas, o Instituto de Medicina Legal de Luziânia convocou todos os familiares dos desaparecidos para buscar hoje os atestados de óbito dos jovens. “Serão as três noites mais difíceis da minha vida: hoje (ontem), amanhã (hoje) e depois. Só vou ter paz quando enterrar meu filho”, lamentou Sirlene Gomes, 42 anos, mãe de George Rabelo, 17, após saber do resultado dos exames.
A Polícia Federal vai entregar hoje os laudos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) ao delegado responsável pelo inquérito, o titular da 1ª Delegacia Regional, Juracy José Pereira, e ao Ministério Público de Luziânia. Os exames ficarão a cargo da Polícia Civil de Goiás, que deve incluí-los nos inquéritos que apuram os sumiços dos jovens. Em nota, a PF explicou que resta apenas o resultado da análise das ferramentas que o pedreiro Ademar Jesus da Silva, 40 anos, assassino confesso, utilizou para matar os jovens: uma enxada e um martelo. Após esta última análise, a PF diz que vai deixar o caso. “Com a entrega dos laudos, a PF está prestes a finalizar sua atuação no caso, uma vez já foi cumprida a missão determinada pelo ministro da Justiça, qual fosse identificar o autor do crime e localizar o paradeiro dos desaparecidos”, destaca o documento assinado pelo delegado de Combate ao Crime Organizado da PF, Hellan Wesley Almeida Soares.
O novo desafio da Polícia Civil de Goiás é encontrar o adolescente Eric dos Santos, 15 anos, desaparecido desde 20 de março, conforme divulgou, com exclusividade, o Correio. Benildes dos Santos, 34, mãe do garoto, identificou um bermuda vermelha florida e um par de sandálias emborrachadas com alças vermelhas como “bem parecidas” com as usadas pelo filho no dia do desaparecimento. As peças de roupas estavam entre os objetos recolhidos da casa do pedreiro Ademar de Jesus Silva em 10 de abril passado, data em que foi preso. A suspeita deixou em choque os familiares do adolescente. Após coletar sangue no IML de Luziânia, para exames de compatibilidade com as ossadas já encontradas, Benildes passou o domingo internada no Hospital Regional de Luziânia. Ela recebeu soro e foi medicada com tranquilizantes das 10h às 18h.
Varredura
Policiais civis e bombeiros começaram ontem uma nova varredura na Fazenda Buracão, situada a 1,8km de Luziânia, local onde estavam as seis ossadas das vítimas de Ademar. Um grupo de 10 bombeiros, divididos em duas viaturas, seis policiais civis e três cães farejadores desceram a mata fechada, supostamente em busca de um corpo. Após mais de duas horas de caminhada na área que equivale ao tamanho de dois campos de futebol, nada foi encontrado. As buscas devem ser retomadas na manhã de hoje. “Só podemos descartar que não há mais corpos enterrados aqui depois de devassarmos a área. Não quero dizer que o Eric esteja morto, mas ainda não o encontramos nos lugares anunciados”, disse o delegado do Departamento Judiciário de Goiás, Josuemar Vaz de Oliveira.
Eric dos Santos saiu de casa por volta das 11h em direção à Escola Estadual Santa Fé, onde estudava à noite e dava aulas de dança durante o dia. A escola fica perto da casa do adolescente: na Rua 9 da Quadra 48 do bairro Parque Estrela Dalva. Ele vestia uma camisa branca, short vermelho e preto e calçava sandálias com tiras vermelhas. Apesar de possuir celular, o adolescente não levou o aparelho. O que, para a mãe dele, desmonta a versão de alguns colegas de que o filho teria fugido.
A propriedade rural onde os policiais fizeram as buscas foi apontada pelo pedreiro Ademar de Jesus, após a prisão, em 11 de abril. O homem indicou aos policiais as seis covas onde os adolescentes estavam enterrados. Em depoimento, Ademar negou ter matado outros jovens ou ter recebido colaboração de alguém nas mortes. “A ausência de participação de outras pessoas nas mortes seria uma das dificuldades da polícia em encontrá-lo, pois além dele, ninguém mais sabia dos crimes”, pontuou Josemar Vaz.
O triste caso de desaparecimento dos seis jovens do Parque Estrela Dalva começou em 30 de dezembro de 2009, quando Diego Alves, 13 anos, saiu de casa pela manhã para ir a uma oficina mecânica e nunca mais voltou. O menino nunca havia dormido uma única noite fora de casa, o que fez com que a família procurasse a polícia imediatamente. Em 4 janeiro, outro jovem desapareceu do bairro. Dessa vez, foi a família de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16, que iniciou o calvário em busca do adolescente. Na sequência, George Rabelo dos Santos, 17 anos; Divino Luiz Lopes da Silva, 16, Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14; e Márcio Luiz de Souza Lopes, 19, sumiram. Nenhum era considerado rebelde pelos familiares.
O número
30 dias
Tempo que as famílias aguardaram pela divulgação dos resultados dos testes de DNA das vítimas
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