A valorização profissional deve ter espaço privilegiado nas políticas de segurança pública, visando uma polícia profissionalmente correta
Por: Ronilson de Souza Luiz*
Livros, livros e mais livros. Desde 2002, um grupo de policiais militares de São Paulo tem alimentado a ideia de que o atendimento policial será melhorado na razão dos investimentos no processo de formação e especialização.
Cremos que a valorização profissional, e esse é o pensamento do atual comandante-geral, coronel PM Álvaro Camilo, deve ter espaço privilegiado nas políticas de segurança pública, visando uma polícia profissionalmente correta, eticamente aceitável, socialmente justa e economicamente viável.
Há consenso de que o direito não é o sustentáculo de nossos maiores desafios, razão pela qual congregamos, no grupo informal, policiais com interesses em educação, administração, psicologia, filosofia, ciência política, letras, sociologia, educação física e outras áreas do conhecimento.
Resumidamente, a Polícia Militar tem hoje, na ativa, excetuando-se nossa memorável área de saúde (médicos, dentistas), cerca de 20 mestrandos acadêmicos, 122 mestrandos profissionais, 15 mestres, dois doutores, 12 doutorandos acadêmicos e 20 doutorandos em ciências policiais de segurança e ordem pública, todos com alguma experiência de docência.
O contingente que aposta na melhor formação individual para resultados coletivos estuda ou estudou na USP, Unicamp, Unesp, PUC, Mackenzie, FGV, UFSCar, dentre outras instituições, que veem na parceria entre polícia e universidade um seguro caminho para dinamizar políticas públicas nesta área decisiva.
Podemos exemplificar pela capitã Tania Pinc, que passou os últimos 11 meses no Texas (EUA) realizando doutorado-sanduíche pelo Departamento de Ciência Política da USP e pesquisando exatamente um dos pontos nevrálgicos da atividade policial, que é o uso da força.
Nunca na história deste Estado um PM estudou no exterior percebendo todas as suas vantagens e garantias. Trata-se de conquista e avanço inquestionáveis do comando da instituição.
Proporcionalmente, já se percebe que os poucos desvios apurados têm ligação com a não utilização dos procedimentos operacionais padrão (POP) e do método Giraldi de Preservação da Vida, permeados pelo princípio de respeito incondicional aos direitos humanos e pela filosofia de polícia comunitária.
Destaco ainda a disciplina de ações afirmativas e igualdade racial, que inclui questões da diversidade sexual, dos indígenas, dos afrodescendentes, dos moradores de rua, das populações andinas, dos idosos e outros temas contemporâneos.
Nossa arma, hoje, é trabalhar com inteligência em formação, o que redunda pensar em como contemplar no currículo as novas demandas da sociedade democrática.
A boa nova de todo esse processo é que já se vislumbra, em âmbito nacional, a implantação do mestrado profissional em segurança pública, que foi debatido recentemente pelo MEC/Capes.
Enfim, como educador policial-militar tenho como visão de futuro o dia em que será rotina, quando um tenente ou sargento rondar suas equipes de trabalho, ter-se um diálogo que contemple a pergunta: “Qual livro você está lendo?”.
Ronilson de Souza Luiz, doutor em educação, é capitão da Polícia Militar de São Paulo e docente no Centro de Altos Estudos de Segurança.
Fonte: Agência Fenapef
Comments are closed.