Depois de dois mandatos como deputado distrital, Chico Leite (PT) conseguiu a reeleição no último domingo. E a conquista teve um gosto especial. O petista foi o candidato mais votado entre os 883 que disputaram uma vaga na Câmara Legislativa, angariando a preferência de 36.806 eleitores. O feito projetou Chico Leite como um potencial futuro presidente da Casa e abriu portas para que ele assuma cargos importantes em um eventual governo de Agnelo Queiroz. Mas o recordista de votos desconversa. “Fui eleito para ser deputado, não para exercer outro cargo. Prefiro ajudar no resgate da credibilidade da Câmara Legislativa.”
Promotor de Justiça e professor, Chico Leite atribui sua votação expressiva ao trabalho de defesa da ética. Nos mandatos anteriores, propôs e conseguiu aprovar o fim do voto secreto dos distritais, a proibição do nepotismo e a obrigatoriedade de o governo e a Câmara publicarem todas as contas e os orçamentos na internet. O parlamentar se diz otimista com a nova legislatura. “A Câmara Legislativa vai passar por seu último teste, depois de chegar ao fundo do poço. A sociedade exige mudança e está pronta para tomar providências, denunciar e fiscalizar os que tiverem desvios de conduta”, explica.
O petista promete colocar a estrutura de sua campanha a serviço da candidatura de Agnelo Queiroz ao GDF, mas garante que vai continuar a fiscalizar os gastos públicos do aliado se ele ganhar no 2º turno. “Esta é uma eleição de causas, não apenas de partidos. A causa é resgatar o amor próprio da cidade.”
“A causa é resgatar o amor próprio da cidade”
A votação expressiva foi uma surpresa? A que o senhor atribui a primeira colocação entre todos os 883 candidatos a deputado distrital?
Isso é o reconhecimento do meu trabalho e também uma resposta da sociedade à cultura de corrupção que tomou conta de todos os poderes e, muito especialmente, do Executivo e do Legislativo no DF. Para mim, pessoalmente, é um estímulo para que eu trabalhe ainda mais e é ainda um sinal de uma grande responsabilidade, a de ajudar no resgate da cidade que amamos.
Que análise o senhor faz da nova Câmara? Haverá uma renovação?
A renovação não pode ser apenas uma troca de nomes, rostos e partidos. Renovação, para mim, precisa ser de postura, de ideias, de paradigmas. É preciso ver se os que chegam e os que continuam têm consciência do que a população deseja. Os brasilienses precisam de alguém que proteja o público, em vez de trabalhar pelo particular, que olhe para o coletivo, em vez de ver os interesses pessoais.
Nos últimos quatro anos, o senhor integrou um grupo de oposição, que teve pouco espaço para atuar na Câmara. Agora, o PT terá cinco representantes, com potencial para agregar ainda mais aliados. Dessa forma, será possível ter uma atuação ainda mais expressiva?
A matemática política é diferente da aritmética. Éramos apenas quatro e fizemos o impeachment, tomamos providência contra parlamentares acusados de corrupção, contra agentes do GDF. E isso é como dizer que a sociedade venceu a guerra. Agora, teremos uma bancada do PT maior e ainda mais experiente, uma bancada capaz de traduzir o que a sociedade quer.
De todos os 24 eleitos, 14 são de partidos que apoiaram Agnelo Queiroz no primeiro turno. Desta vez, será possível montar uma bancada com maior número de aliados?
Existem três fatores que se unem para que consigamos agregar parlamentares. O primeira é que temos valores diferentes. Em vez da obra megalomaníaca e do viaduto, o povo quer o Saúde em Casa e a creche. Essa atmosfera é favorável à criação de grupos, com novas consciências. A Câmara Legislativa vai passar por seu último teste, depois de chegar ao fundo do poço. E os deputados precisam ter isso em mente.
Apesar da chegada de novatos, três dos reeleitos foram citados nas investigações da Operação Caixa de Pandora. Isso vai comprometer o trabalho da Casa?
As instituições refletem a sociedade que as mantém. Se há quem privilegia o direito individual é porque também existe uma parcela da sociedade que privilegia o direito individual. Quem compra o voto dá também direito àquele que compra de ir buscar nos cofres públicos o que pagou. É natural, isso faz parte da democracia.
Que balanço o senhor faz dos seus dois mandatos como distrital?
Os nossos mandatos deixaram legados importantes para a população do DF. Na agenda ética, propusemos o fim do voto secreto parlamentar, o fim do nepotismo e a garantia de transparência do Legislativo e do Executivo. Hoje, graças aos nossos projetos, existe uma obrigatoriedade de publicação das contas para que todos fiscalizem. Na agenda de defesa da juventude e do consumidor, começamos a luta contra a tarifa básica da telefonia e contra o pagamento de adicional da TV a cabo. Também destaco a lei dos concursos públicos, que é pioneira e inspirou a criminalização das fraudes em concursos no âmbito federal.
Qual será a sua postura no segundo turno das eleições para governador?
Vamos colocar toda a nossa campanha a serviço da candidatura do Agnelo. Esta é uma eleição de causas, não apenas de partidos. A causa é resgatar o amor próprio da cidade, com opção pelo ser humano, e não pelo cimento, ou pelo vil metal. Isso vai significar, na prática, que o governo deverá assumir suas responsabilidades, em vez de repassar a terceiros. Toda eleição é difícil, mas estamos prontos para vencer. Toda a militância está voltada para a eleição do Agnelo.
Caso Agnelo seja eleito, o senhor continuará com o trabalho de fiscalização dos gastos do GDF?
Vamos continuar a agir exatamente da mesma forma. Ele (Agnelo) vai precisar de quem o ajude, cumprindo esse papel de fiscalização para que ponha em prática seus projetos. Já fizemos a ele algumas propostas, como proibir que qualquer ficha suja exerça cargos no governo, e para que haja uma profissionalização, com aproveitamento dos funcionários de carreira. Defendemos também que a escolha dos administradores regionais seja feita por métodos democráticos, em listas sêxtuplas indicadas pela comunidade
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