Se você vai viajar para o exterior e pretende tirar o passaporte, prepare-se: será preciso ter muita paciência. A emissão do documento no Rio de Janeiro pode demorar até quatro meses. A peregrinação dos interessados vai desde o momento do cadastro no site da Polícia Federal para agendar um horário de atendimento até a entrega dos passaportes nos postos, que, em alguns casos, obriga as pessoas a esperar de três a cinco horas na fila. Em São Paulo, o sofrimento com a maratona, em algumas cidades do interior do estado, é semelhante ao dos cariocas.
A universitária Cláudia Soares da Mata, de 24 anos, por exemplo, precisou adiar a viagem para Orlando, nos Estados Unidos. Moradora de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, a jovem preencheu o formulário na internet em 20 de dezembro do ano passado, e pagou R$156 através da Guia de Recolhimento da União (GRU). Ela, porém, só conseguirá agendar pela internet atendimento no dia 26 de abril, quando terá que ir pessoalmente ao posto da PF num shopping da Barra da Tijuca. Depois disso, Cláudia ainda precisará esperar de 15 a 20 dias para, enfim, receber o passaporte.
– Ainda bem que eu não comprei as passagens. É uma bagunça total. Agora, só vou poder viajar depois de maio. Nunca pensei que fosse ser tão demorado – lamentou a estudante de desenho industrial.
O professor de educação física Rodrigo Peixoto, de 25 anos, irá para Miami no meio do ano. Para não ter problemas, resolveu se cadastrar no site da Polícia Federal em novembro do ano passado. Morador da Tijuca, ele só recebeu ontem o passaporte no posto do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), na Ilha do Governador. Para isso, teve que esperar mais três horas na fila. E desabafou:
– Faltam funcionários para atender o público e mais organização. Não almocei hoje (ontem) e tive que chegar mais tarde no trabalho.
Estrangeiros também enfrentam longas filas
A médica Cristina Martins, de 37 anos, foi receber o passaporte no posto da PF no aeroporto e encontrou cem pessoas na fila para fazer o mesmo. Também havia longas filas para estrangeiros que precisavam renovar suas autorizações de permanência no país:
– Esse é o cartão de visitas para os estrangeiros. É vergonhoso para um país que vai sediar a Copa e as Olimpíadas.
A demora na emissão do documento não diminuiu nem com as mudanças no sistema informatizado da PF, no mês passado. Débora Pimentel Pereira, chefe do Núcleo de Passaporte da PF no Galeão – que inclui os postos dos shoppings Leblon, Rio Sul e Via Parque – aponta, no entanto, outros fatores:
– O dólar baixo e a facilidade de parcelar as passagens aumentaram o fluxo de passageiros. Em 2009, emitimos 123 mil passaportes. Em 2010, serão 150 mil, 30 mil a mais.
Ela admitiu o problema:
– Antes, demorava uns 40 dias. Agora, são 80, em média. Mas não limitamos o atendimento a pessoas do Rio. Recebemos gente de outros estados.
Para amenizar a situação, a agente da PF lembrou que foram abertas vagas extras de atendimento ao público durante a madrugada, entre 4h e 7h, de segunda a sexta-feira.
– São mais 60 vagas por dia, que podem ser marcadas pela internet – explica ela.
Só no Galeão, são entregues de 400 a 600 passaportes por dia, em apenas três cabines.
Em São Paulo, o problema se repete
Em São Paulo, apesar de o tempo médio de espera na capital estar em torno de 25 dias, pessoas que foram ontem ao posto do Shopping Ibirapuera, na Zona Sul, relataram ter enfrentado problemas para a emissão do documento, com longa espera na fila. No interior, a situação é ainda pior. A administradora de empresas Maria de Lourdes Rodrigues, de 59 anos, pretendia renovar o documento na sua cidade, Ribeirão Preto, a 314 quilômetros da capital.
– Mas tentei marcar lá e só tinha vaga para abril.
Ela viajará em março, de férias, para Cartagena, na Colômbia, e, para não mudar a sua programação, seguiu para a capital paulista. O atendimento deveria ocorrer às 15h de ontem. Mas até 16h ela ainda esperava.
Para a psicanalista Mônica Zacharias, de 40 anos, tirar o passaporte do filho, Gabriel Zacharias, de 13 anos, já se transformou numa novela.
– Estamos tentando desde novembro, porque ele iria fazer um curso de inglês nos Estados Unidos em janeiro, mas na época estava impossível agendar – disse.
O curso precisou ser transferido para julho.
– Meu filho ficou entrando no site o tempo todo para tentar marcar e, no começo de janeiro, conseguiu marcar para hoje (ontem) – contou.
A PF informou que o tempo de agendamento na cidade de São Paulo é de 25 dias. Disse ainda que pessoas que comprovarem preencher requisitos para serem atendidas em regime de urgência serão recebidas no mesmo dia.
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