Ainda sentindo os efeitos de um contingenciamento realizado no ano passado, que interrompeu operações importantes, a Polícia Federal (PF) acendeu o sinal de alerta com o corte de R$ 50 bilhões do Orçamento Geral da União, anunciado na quarta-feira pelo governo. Sem saber quanto terá para gastar este ano, a PF pode adiar, mais uma vez, a construção de sua nova sede, calculada em R$ 230 milhões, e diminuir o ritmo de suas ações ao longo dos próximos meses. Os sindicatos da categoria temem atrasos no pagamento de diárias para os servidores em viagens, além da suspensão de concursos — nos últimos três anos, o quadro de servidores administrativos perdeu mais de 520 funcionários, a maioria por motivo de aposentadoria.
A preocupação da PF não é apenas transformar a maquete do novo edifício, montada em sua atual sede, em um prédio para comportar as centenas de servidores que hoje trabalham em condições precárias, mas também com as operações. Para isso, são necessários gastos com as investigações e também com diárias de agentes em viagens. “A Polícia Federal está sendo cada vez mais exigida, e temos um planejamento estratégico para atender suas demandas. Se houver corte de recursos no orçamento da corporação, a situação será temerária, pois temos dois grandes eventos de repercussão internacional no horizonte: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas no Rio, em 2016”, afirma o delegado Joel Mazo, presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Federal. “O que precisamos é ter novos concursos e um bom orçamento”, acrescenta.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink, também está pessimista. “Não temos dúvida de que haverá cortes”, diz o dirigente, baseando-se em experiências de outros anos. “Em 2010, foram pequenos ajustes, mas em 2011 será bem pior”, acredita Wink. Hoje, o efetivo da corporação é de 14.423 servidores, sendo 11,6 mil policiais — 100 cargos de agentes estão vagos. “As pessoas passaram no concurso, chegaram a comprar material para a academia, mas não foram chamados”, conta o presidente da Fenapef.
Não são apenas alguns setores da corporação que estão preocupados com o contigenciamento, mas também representantes de movimentos que possuem convênios com a área. “Ainda não temos informações de onde ocorrerão cortes, mas isso não quer dizer que não haverá redução orçamentária na área de segurança pública”, observa o coordenador da ONG Viva Rio, Antônio Rangel Bandeira — a instituição luta contra a exclusão social, entre outras atividades. Ele vai discutir o assunto nos próximos dias com o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. “A segurança pública tem que ser uma prioridade”, defende Rangel. As sugestões de ajustes no orçamento serão definidas na próxima semana, quando serão anunciadas a cada órgão do governo.
Receita
Com um deficit em torno de 7 mil servidores, a Receita Federal também está incomodada com a possibilidade de os cortes afetarem o trabalho nas fronteiras, apesar de o órgão já ter promovido um concurso recentemente. “Precisamos de pelo menos o dobro de analistas tributários e auditores fiscais que temos atualmente. Tivemos uma seleção pública, mas a expectativa era ampliar o número de vagas para incorporar os que não foram chamados”, conta um técnico da Receita que não quis se identificar.
Máscara Negra
Inaugurada em julho de 1977, a atual sede da Polícia Federal, localizada no Setor de Autarquias Sul, é mais conhecida como Máscara Negra, apelido recebido durante o regime militar. No edifício estão as cinco diretorias da corporação e as coordenações-gerais. O aumento das atividades da PF nos últimos oito anos obrigou a Direção-Geral a desmembrar algumas áreas, como a Diretoria de Inteligência Policial, que também tem um escritório no Sudoeste.
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