Quatro dias depois da prisão de 30 policiais suspeitos de envolvimento com o crime organizado, durante a Operação Guilhotina, a crise parece se ampliar na cúpula da Polícia Civil: pelo menos mais três delegados e outros agentes podem ser presos nos próximos dias. Ontem, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) – uma das mais importantes do estado – foi fechada, para que fossem apreendidos documentos que indicariam a cobrança de propina para o arquivamento de inquéritos contra prefeituras. A ordem para a devassa foi do chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, que teve seu nome citado por uma testemunha e, por isso, precisou depor na Polícia Federal, sexta-feira, sobre o esquema de corrupção na instituição.
Turnowski, que nega envolvimento no esquema, teria sido acusado de receber propina de contraventores da máfia dos caça-níqueis e de uma quadrilha de contrabandistas, que atuaria no comércio de produtos piratas no Centro. Apesar das denúncias, o delegado garante que continua no cargo. Ao todo, 45 pessoas tiveram a prisão decretada pela Justiça, entre elas o delegado Carlos Oliveira, ex-subchefe operacional da Polícia Civil e braço direito de Turnowski.
Outro preso durante a operação, realizada pela PF, é o inspetor Christiano Gaspar Fernandes, acusado de integrar uma das mais atuantes milícias do estado, que domina as favelas Roquete Pinto e Borgauto, em Ramos. Os milicianos são suspeitos de assassinatos, cobrança de taxas em transações imobiliárias, monopólio do fornecimento de gás e venda de sinal ilegal de TV por assinatura. O policial estava lotado na 22ª DP (Penha), depois de passar pela Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae). Christiano, ainda segundo a PF, também participava de um grupo de policiais e informantes da polícia acusado de saquear bens de traficantes em operações em morros. Na tomada dos complexos do Alemão e da Penha, armas, munição e drogas apreendidas teriam sido desviadas pelo bando.
Dos 45 mandados de prisão da Operação Guilhotina, 11 foram expedidos contra policiais civis, 21 contra PMs (incluindo oito que atuavam na Drae e na Delegacia de Combate a Drogas) e 13 contra ex-policiais e informantes.
Saques também no São Carlos
A PF, com o apoio da Secretaria de Segurança e do Ministério Público estadual, também identificou um grupo de policiais civis e militares envolvido com roubos de bens de traficantes na recente ocupação de favelas de Santa Teresa e do Complexo de São Carlos, no Estácio. No último dia 6, mais de 300 policiais, com apoio de blindados da Marinha, ocuparam nove comunidades. A PF teria flagrado policiais desviando fuzis, drogas e munição dos traficantes, como ocorreu durante a ocupação do Complexo do Alemão.
– Estamos saindo com 15 fuzis – teria dito um policial, numa das conversas gravadas, após a tomada dos morros da região.
O conjunto de favelas deverá receber pelo menos uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) ainda este ano. No planejamento divulgado na época da ocupação pela Secretaria de Segurança, as buscas por armas, munição e drogas deveriam durar um mês. Nesse período, as favelas ficarão ocupadas por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
– Identificamos novos grupos criminosos. Delegados da cúpula envolvidos em ações criminosas e policiais novamente flagrados desviando armas apreendidas com bandidos – contou um policial, pedindo para não ser identificado.
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