O delegado Marco Antonio Desgualdo, que comandou a Polícia Civil paulista de 1999 a 2006, foi afastado ontem da chefia do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), cargo que ocupava desde agosto de 2009.
A saída de Desgualdo ocorre após ele ter seu nome ligado à obtenção do vídeo do shopping Pátio Higienópolis em que o secretário da Segurança, Antônio Ferreira Pinto, aparece com o repórter da Folha Mario Cesar Carvalho.
O shopping diz que as imagens foram entregues a pedido de “policiais”, o que caracterizaria uma espionagem ao secretário da Segurança.
PUNIÇÕES
Procurado, Desgualdo não respondeu aos pedidos de entrevista. O delegado é homem de confiança do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Em toda a primeira gestão do tucano no Estado (2001-2006), Desgualdo comandou a Polícia Civil.
Ele vinha no cargo desde a gestão Mário Covas (PSDB), que morreu em 2001.
Horas antes do afastamento, Alckmin afirmou em entrevista que puniria qualquer um que tivesse “desvirtuado” o trabalho policial.
As imagens do encontro entre Ferreira Pinto e Carvalho foram divulgadas em sites e blogs -um deles ligado a policiais civis-, que relacionaram o encontro à reportagem do jornalista sobre a venda de dados sigilosos por um funcionário da Segurança, o sociólogo Túlio Kahn, que acabou demitido.
LEALDADE
Desgualdo, segundo apurou a Folha, admitiu aos seus chefes ter sido chamado por um grupo de policiais para obter as imagens no Pátio Higienópolis, na região central de São Paulo, mas afirmou não querer participar de nada e preferiu ficar quieto.
Como não comunicou o fato a seus superiores foi afastado por “falta de lealdade administrativa”. Desgualdo agora é investigado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil e também pela Corregedoria Geral da Administração, órgão vinculado ao Palácio dos Bandeirantes.
Na investigação também surgiram os nomes do ex-delegado Paulo Sergio Oppido Fleury, demitido em junho de 2010 da Polícia Civil, o também delegado Everardo Tanganelli Junior e o investigador Oswaldo Luiz Cardenuto.
Fleury não quis falar. Ele se diz vítima de perseguição por parte de Ferreira Pinto.
Tanganelli Junior e Cardenuto não foram localizados.
DIVULGAÇÃO
O primeiro a divulgar as cenas foi o radialista João Alkimin, no site “Vejo São José”. A mulher do radialista, Tânia Nogueira, é advogada do delegado Ivaney Cayres de Souza e de Tanganelli Junior, que perderam espaço na gestão Ferreira Pinto.
O radialista nega relação entre o vídeo e sua mulher. O delegado Souza estava no shopping, com uma jornalista da Folha, no momento em que Ferreira Pinto se encontrava com Carvalho.
O delegado Souza afirma ter visto o secretário, mas nega ligação com a divulgação das imagens.
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