Em matéria veiculada nesta quarta-feira, 23, pela Folha de São Paulo, estão expostas algumas mazelas da Carreira Policial Civil do Estado de São Paulo, no tocante à debandada dos servidores que ocupam o cargo de delegado.
Segundo os dados apresentados pelos autores da matéria (Rogério Pagnan, Venceslau Borlina Filho e Hélia Araujo), nos últimos cinco anos, um delegado pede exoneração a cada 14 dias, migrando para outros cargos que oferecem melhor salário, tais como promotores e juízes. Estatísticas da Polícia Civil paulista indicam que dos atuais 3.196 delegados, 126 deles pediram para sair no período. Pior ainda: dos 180 delegados formados no último concurso, em 2009, 34 (19%) já pediram exoneração.
Porcaria – O desembargador aposentado Aloísio de Toledo César, 70 anos, dando a sua opinião sobre a grande evasão, sugere que a polícia paulista deveria adotar o modelo da Polícia Federal. “Antes, a PF era uma porcaria. Depois, equipararam os policiais a juízes e hoje a PF tem uma atuação exemplar”, disse.
Apesar da sinceridade quanto ao antigo status do órgão, o desembargador cometeu um grande equívoco, pois os delegados federais nunca foram equiparados aos juízes. Trata-se de um antigo sonho daquela categoria, que pelo seu caráter segregatório e divisionista, tem trazido graves e irreparáveis consequências ao cotidiano da instituição.
A Polícia Federal enfrenta os mesmos problemas de evasão. O Sindipol/DF não dispõe de dados concretos quanto aos números e estatísticas, mas o êxodo da carreira policial federal, notadamente de agentes, escrivães e papiloscopistas vem tornando-se mais agudo. A falta de perspectiva dos que integram os cargos citados tem origem numa estrutura organizacional arcaica, antidemocrática e imperial. Soma-se a esse fator a defasagem salarial frente às demais carreiras típicas de estado, que gira em torno de 65%.
Conclusão – A matéria do periódico, muito embora tente demonstrar a falta de valorização, que reflete diretamente na segurança pública do estado de São Paulo, é superficial e tendenciosa. As mazelas da segurança pública só serão devidamente sanadas quando da reorganização estrutural das polícias, pautada pela competência e capacitação, deixando de lado a elitização e o clientelismo (na pior acepção da palavra).
Enquanto não houver um debate aberto sobre uma real e efetiva prestação do serviço de segurança pública para a sociedade, consubstanciada na meritocracia, com reestruturação das carreiras policiais e do sistema de persecução criminal, veremos os índices de evasão dos cargos policiais, principalmente dos que trabalham diretamente com a ciência investigativa, aumentarem vertiginosamente.
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