Por: Humberto Wendling
Em 28 de janeiro de 2009, foi publicado o artigo Carregar e ficar pronto! Sua sobrevivência depende de três coisas! O artigo foi difundido por meio da Internet e postado em um fórum sobre concursos públicos. Até aqui, tudo bem!
Contudo, o que chamou minha atenção foram dois comentários sobre o texto. O primeiro comentarista escreveu: “Que nóia! Em tempos de Carnaval: Olha a lavagem cerebral aí gente!!!!!!!!” Já o segundo registrou: “Ah velho, esse cara tá assistindo muito filme americano… Digo mais, na primeira oportunidade que ele ver algo estranho vai acabar tomando um tirambasso (sic) na testa.”
O curioso é que o fórum se denominava “Aos futuros federais…” Portanto, isso requer algumas reflexões sobre o comprometimento com a própria segurança dos futuros policiais e o papel dos professores das diversas disciplinas ministradas nas academias de polícia, deixando de lado a análise do perfil de ajustamento (ou não) para sucesso da atividade de polícia de alguns candidatos à carreira policial.
Não há qualquer dúvida de que cada integrante de uma organização policial é importante para o desempenho e o bom resultado de sua missão institucional, que é a promoção da liberdade e dos direitos dos cidadãos. E, para isso, existem aqueles homens que fazem o trabalho dia e noite e aqueles que estruturam o ambiente para que todos tenham uma condição ideal para desempenhar suas funções para o sucesso policial. Pelo menos é assim que deve ser! Mas o importante é que todos têm um trabalho a fazer, e muitos procuram fazer bem.
Desse modo, também é importante lembrar o papel dos professores, mesmo que algumas pessoas acreditem que seus ensinamentos e considerações sejam meros exageros (como demonstram os comentários do fórum), pois os policiais ainda podem trabalhar, patrulhar, investigar e administrar sem os instrutores. Porém, é possível melhorar? É possível tornar o trabalho de cada policial mais seguro e eficaz, mesmo que muitos jamais sejam forçados pelo acaso a enfrentar o perigo? Se a resposta for não, então a trabalho está completo. Mas se a resposta for sim, então cabe a cada policial, e principalmente ao professor, auxiliar nesta superação.
Por quê? Porque o professor tem a tarefa de produzir e avaliar uma informação para dispô-la num contexto no qual o policial é capaz de usar com aproveitamento. O instrutor deve trabalhar com os colegas, observando suas atividades e absorvendo suas experiências, para criar um mecanismo que se ajuste à necessidade do trabalho e melhore a segurança de cada indivíduo empenhado na luta contra a violência e o crime.
Para isso, o instrutor precisa pesquisar e aprender continuamente, procurando novas informações que os policiais possam necessitar, e descobrindo como levá-las até eles no tempo e na forma corretas. Felizmente, os bons policiais têm um pouco de professor dentro deles, pois todos dividem experiências, informações e aprendem uns com os outros.
Mas o policial que é designado como instrutor (seja de tiro, de técnicas operacionais, direção defensiva e ofensiva ou qualquer uma das mais variadas disciplinas) é o que tem o encargo específico de desenvolver, coletar e transmitir informações efetivamente. E essa é uma grande responsabilidade! Ele precisa ser sempre curioso sobre a natureza da profissão policial. Ele jamais deve acreditar que já sabe tudo o que precisa saber. Se um instrutor desenvolve um estado mental de que ele completou seu treinamento e de que é um ás, então ele alcançou um ponto onde não é mais capaz de oferecer o máximo de utilidade em benefício dos colegas policiais que arriscam suas vidas diariamente.
O professor deve aprender mais sobre o que ele e os outros colegas fazem. Ele deve desenvolver treinamentos, participar de seminários e cursos à distância, ler e conversar com outros instrutores e especialistas. Como tal, ele deve se sentir à vontade para escrever artigos e livros, onde novas ideias são oferecidas para o melhoramento dos policiais. Além disso, ele tem a obrigação de estar certo de que a informação transmitida está correta e atualizada, realizando uma análise de cada dado. Essas são apenas algumas das coisas que o instrutor precisa fazer para continuar presente.
O professor não pode ser propagador do mau trabalho policial, e jamais pode ser insensível às tentativas dos colegas policiais que querem atingir a excelência. Ele deve ajudar, e não ficar alheio para depois criticar injustamente um esforço honesto para melhorar, ainda que esteja sob o peso da desmotivação que permeia o trabalho policial.
Finalmente, o professor deve fazer o máximo esforço para proteger a dignidade e a integridade física daqueles que são treinados. Quando algum policial é ferido ou morto, ele deve descobrir as causas de um resultado tão negativo para tentar, da melhor maneira possível, reduzir a chance de futuras ocorrências semelhantes. E é para isso também que servem os artigos publicados na Internet, o desenvolvimento de blogs policiais e o lançamento de livros!
Quanto ao policial, seu papel é treinar para desempenhar bem sua função e estar a salvo, pois não é possível saber antecipadamente quem será a próxima vítima ou quem irá se aposentar sem sofrer um incidente ao longo da carreira. E como todo policial tem um pouco de instrutor dentro de si, pois cada experiência é única e valiosa, sua tarefa também é aprender e ensinar. E aos futuros policiais, o trabalho talvez seja aprender a aprender.
Treinar (mesmo mentalmente) não custa nada, mas a vida de um colega policial vale muito. Contudo, se alguém acha que nada vai acontecer, que tudo é exagero, paranoia, lavagem cerebral ou coisa de cinema e que não é preciso sequer acreditar no perigo, talvez seja melhor tentar outra profissão para o próprio bem e para a salvaguarda daqueles homens e mulheres que já abraçaram e honram a carreira policial, dedicando diariamente suas vidas em prol de pessoas desconhecidas.
Humberto Wendling é Agente de Polícia Federal e Professor de Armamento e Tiro lotado na Delegacia de Polícia Federal em Uberlândia/MG. E-mail: humberto.wendling@ig.com.br Blog: www.comunidadepolicial.blogspot.com
Fonte: Agência Fenapef
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