Especialistas ouvidos pelo Correio defendem que o atual modelo de atuação da polícia do Rio de Janeiro é ultrapassado. Faltam inteligência e planejamento, e a prevalência de confrontos com criminosos acaba vitimando inocentes, como o repórter cinematográfico Gelson Domingos da Silva. De 1997 até 2010, foram registrados 11.614 casos de resistência com morte do opositor, segundo dados do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes. O relatório mais recente divulgado pela Secretaria de Segurança do estado mostra que, somente em julho deste ano, a polícia matou 37 pessoas. No mesmo período, um policial foi morto.
“Esse modelo tradicional de operações de incursões em favela procurando criminosos, que acaba em tiroteios, só traz risco e nenhum benefício para a população” critica o sociólogo e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Ignácio Cano. Segundo o especialista, a ação não coíbe a violência nas favelas. “Quando os policiais saem, as redes criminosas se reorganizam”, detalha.
Ignácio Cano acredita que o padrão militarizado deve ser substituído por um que envolva uma ação planejada. “Tem que identificar os suspeitos, monitorar e prender quando não oferecerem resistência”, defende. O sociólogo também acredita que o modelo da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) deve ser ampliado para que o trabalho da polícia não seja pontual. “Hoje, são apenas 18 UPPs. No Rio de Janeiro, há centenas de regiões que precisam delas”, diz.
O professor de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cláudio Beato sustenta que outro erro da segurança carioca é utilizar o Batalhão de Operações Especiais, treinado para confrontos, em ações rotineiras. “A polícia já entra com violência no morro. O criminoso sabe que está em uma situação em que precisa matar para não morrer”, relata.
Fonte: Correio Braziliense
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