GABRIELA GUERREIRO – Folha de São Paulo
Depois de manter-se em silêncio por mais de um mês sobre as denúncias que o ligam ao empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) subiu nesta segunda-feira à tribuna do Senado para fazer um novo discurso em que se diz inocente.
Demóstenes pediu desculpas aos colegas senadores, disse que é vítima de uma campanha “difamatória” conduzida pela mídia e Polícia Federal e afirmou estar incomodado com o “isolamento” imposto pelos parlamentares.
Ao falar para um plenário vazio, o ex-líder do DEM prometeu fazer discursos diários na tribuna, até quarta-feira, quando a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado vota o processo de sua cassação. Se for aprovado, ele segue para votação secreta no plenário da Casa no dia 11 de julho.
“Virei à tribuna todos os dias para provar minha inocência nas acusações que me foram feitas. O farei com o plenário repleto ou vazio. Não concederei apartes [permitir que outros senadores falem] para poder apresentar minha versão. A versão dos demais já foi apresentada.”
O senador disse que vive há 135 dias um “calvário sem trégua” por ter sido julgado e condenado mesmo sabendo ser “íntegro”. “A tática dos detratores é implodir probidade de décadas de trabalho, esforço e dedicação. Tem sido uma destruição tijolo a tijolo, no ardil de vazar em pílulas, para ter continuamente assunto que aniquile a minha imagem.”
Demóstenes se desculpou com os 44 senadores que discursaram em seu apoio no dia 6 de março, quando falou pela primeira vez da tribuna da Casa sobre as denúncias. “Quem está aqui hoje é o mesmo homem daquele dia: envergonhado, abatido, cansado, esgotado. É de peito aberto que volto aqui pedindo perdão pelos erros.”
Depois, estendeu o pedido de desculpas aos demais parlamentares. Pediu para ser julgado pelos colegas não pelo “achincalhe” público, mas pelas acusações em que diz ser inocente.
“O motivo a campanha difamatória pode ter provocado os silêncios das vozes de apoio. A campanha foi tão difamadora que os senadores podem estar duvidando da minha honradez, o que me fere de morte”, disse.
Em uma espécie de desabafo, disse que o “pior” da situação atual é não ter o apoio de colegas do passado. “A dor provocada pelo escândalo é insuportável. Meu organismo não tem mais lágrimas a verter. Compreendo as razões de alguns para me alvitrarem. Os holofotes transformam em comparsa o colega educado que chega a mim com urbanidade.”
O senador disse que se sente uma “chaga contagiosa do apodrecido pela exposição”, mas não pelos fatos.
O ex-líder do DEM afirmou que vai provar sua “honradez e retidão” que são “dívida” pelo apoio recebido em seu primeiro discurso, feito no dia 6 de março.
Demóstenes rebateu novamente as acusações do PSOL que deram início ao processo no Conselho de Ética que aprovou, na semana passada, a cassação do seu mandato. Disse que não usou o mandato para beneficiar Cachoeira, não recebeu recursos do empresário e nem faltou com a verdade quando afirmou desconhecer negócios ilegais conduzidos pelo empresário.
O senador reafirmou que a Polícia Federal fez uma seleção de áudios de conversas em que foi citado ou participa dos diálogos com o objetivo de prejudicá-lo, com ataques diretos e acusações aos policiais e ao Ministério Público. “O fim almejado é manipular ação para ficar insustentável a degola do parlamentar”, disse.
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